Identificando e tratando a seletividade alimentar
O transtorno seletivo alimentar é atualmente classificado como Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE). Mais do que apenas ser um comedor exigente, o paciente com TARE pode ter aversão sensorial a certos sabores, texturas ou cores, chegando a desenvolver fobia de certos alimentos. Como resultado, se alimentam com uma dieta muito restrita, afetando principalmente os níveis de micronutrientes.
Características de pessoas com TARE
Os transtornos alimentares seletivos podem afetar adultos e crianças, que apresentam sintomas psicológicos como ansiedade e depressão, bem como convívio social prejudicado. Além disso, há outras características em comum:
Comer apenas alimentos que são vistos como seguros ou aceitáveis, evitando alimentos com um sabor, textura ou cor particular;
Normalmente a escolha é sempre pelos mesmos alimentos;
Sentir aversão a grupos alimentares inteiros, como frutas, vegetais ou leguminosas;
Ficar angustiado quando é encorajado a experimentar alimentos diferentes, seja por causa de uma fobia ou medo de engasgar ou vomitar;
Apresentar náuseas e vômitos ao se deparar com a necessidade de comer novos alimentos;
As crianças fecham a boca para evitar de qualquer maneira a ingestão de um alimento diferente.
Possíveis causas do TARE
Os estudos indicam que, na maioria das vezes, o transtorno alimentar seletivo tem início na infância. Confira alguns pontos importantes no processo de formação do paladar:
Pesquisas mostram que a amamentação é um facilitador para aceitação de novos alimentos, já que as variações na dieta da mãe se refletem nas características sensoriais do leite materno.
Por outro lado, é recomendado que não se atrase na introdução gradual de alimentos sólidos na dieta do bebê. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, este processo deve ter início aos 7 meses. Nesse período é ainda mais importante alternar as formas de preparação e textura dos alimentos oferecidos.
A maneira de oferecer alimentos também deve ser variada, como alternar entre dar comida na boca ou deixar comer sozinho, assim como dispor os alimentos em pratos em diferentes locais da casa.
A família e os cuidadores devem prezar pelo ambiente onde a criança se alimenta. Se um ambiente é agradável e novos alimentos são oferecidos sem coação, a criança fica muito mais suscetível a desenvolver preferência por eles.
Tratamento do TARE
Por ser um distúrbio de classificação relativamente recente (2017), ainda não existe um protocolo estabelecido para tratamento do Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo. O que vem sendo praticado é uma abordagem multidisciplinar, com participação de nutricionista, psiquiatra ou psicólogo e clínico geral ou pediatra. Neste contexto, algumas práticas vêm demonstrando bons resultados.
Talvez o ponto de partida esteja na aceitação do diagnóstico pelo paciente, que toma consciência dos efeitos do TARE para a saúde do seu organismo e para suas relações sociais. Neste momento é importante que os pais, no caso das crianças, tomem consciência e se engajem ativamente no tratamento.
Tendo em mente que este é um tratamento de avanço lento, é possível sugerir e acompanhar algumas ações:
Todos devem prezar por um bom ambiente de refeições, seguindo conceitos como o mindful eating, que descarta o uso de eletrônicos à mesa e defende uma ligação maior com a comida. Devem ser evitadas discussões ou cobranças no momento da alimentação.
Combinar a introdução pontual de cada novo alimento ou forma de preparo, ressaltando as semelhanças com alimentos aceitos e sua importância para a saúde. A dieta do paciente deve ser a mesma dos outros moradores da casa.
Administrar a ansiedade por resultados, por parte do paciente e de seus pais ou companheiros, evitando que a cobrança por avanços venha a prejudicar o engajamento e a própria continuidade do tratamento.
Monitorar a carência de micronutrientes e, quando houver necessidade, receitar suplementos alimentares que supram essas necessidades.
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