Inteligência emocional: o equilíbrio que impulsiona

Aprender a lidar com as emoções, independente do seu estado, é um dos segredos para prevenir o surgimento ou a potencialização de várias doenças. Especialmente quando o estresse é algo recorrente na vida das pessoas.

O estresse provoca diversas alterações no nosso organismo, sobretudo no sistema hormonal, aumentando os níveis de adrenalina e cortisol. Estes hormônios que estimulam o corpo e o deixam em “estado de alerta”, ou seja, em um estado preparado para a ação, seja para “lutar” ou para “fugir” de um perigo ou ameaça.

Essas alterações hormonais provocadas pelo estresse podem até ser positivas, desde que em pequenas quantidades. Nosso corpo é preparado para receber pequenas doses de estresse, pois isso contribui para equilibrar as funções orgânicas e para enfrentar diversos problemas do dia a dia.

O problema está nos casos crônicos, ou seja, quando o organismo está sujeito a doses de estresse constantemente. Essa sucessão de eventos estressores desencadeias alterações hormonais, aumentam a tensão muscular, aceleram a pressão e os batimentos cardíacos, podem causar problemas gastrointestinais e afetar o funcionamento de diversos órgãos do corpo.

Reconhecer as doenças decorrentes do estresse e ter ferramentas que nos ajudem no seu manejo é fundamental. Uma das habilidades que podemos desenvolver para driblar o excesso de estresse, é a inteligência emocional (IE).

O que é inteligência emocional

O conceito de inteligência emocional se tornou conhecido na década de 1990, com a publicação do livro homônimo escrito pelo então jornalista do The New York Times Daniel Goleman. A partir do sucesso do livro, o tema foi abordado em revistas e programas de TV, levando seus conceitos a um público maior. Mas o que é a inteligência emocional?

De uma forma simplificada, inteligência emocional é a capacidade de reconhecer sentimentos e emoções e integrá-los aos processos internos de tomada de decisão.
Trata-se de tirar esses processos do “modo automático”, trazendo consciência para eles e tendo uma maior habilidade para gerenciar as emoções. Para isso, evita-se desqualificar ou deixar-se dominar pelas emoções. A “escola da vida” pode desenvolver essa habilidade naturalmente em algumas pessoas, mas todos têm naturalmente a capacidade de se aprimorar nestas questões.

Alguns dos benefícios de desenvolver a IE são:

Melhorar o foco e a concentração

Desenvolver o modelo mental de crescimento

Melhorar a forma como respondemos ao estresse e aumentar a resiliência

Desenvolver maior autoconsciência e a capacidade de gerenciar as emoções

Melhorar as habilidades de comunicação e tomada de decisão

Ferramentas para desenvolvimento da inteligência emocional

Para desenvolver, a pessoa pode adotar novos hábitos diários. Sendo praticados com a disciplina de uma atividade física, tendem a fortalecer esse novo padrão. Segundo Daniel Goleman, doutor em psicologia, é preciso focar em quatro habilidades que são pilares para a I.E: Autoconsciência, Autogestão, Empatia e Gestão de Relacionamentos:

Autoconsciência

É a capacidade de perceber nossos estados internos. Muito importante não apenas para a questão da inteligência emocional, mas para desenvolver qualquer evolução em nossa vida. Segundo o filósofo Hegel, é o modo por meio do qual o sujeito tem consciência plena de si próprio, partindo da premissa de que a realidade externa é um produto, uma imagem do próprio eu.

Ou seja, essa primeira habilidade que precisamos desenvolver para melhorar a nossa I.E. tem a ver com a nossa capacidade de perceber nossos estados internos, enquanto eles estão acontecendo.

Dentre as ferramentas para desenvolver a autoconsciência, está a prática do Mindfulness, a “Atenção Plena”. Ou seja, a capacidade de gerenciar nossa atenção de forma a focá-la no momento presente, com uma atitude de abertura e curiosidade. Outra ferramenta que pode ser utilizada para desenvolver a autoconsciência é a prática do diário: escrever diariamente um pouco sobre o que está acontecendo, mesmo sendo algo curto e rápido, de forma que ajude a organizar os pensamentos.

Essa prática irá ajudar a organizar pensamentos e sentimentos dos quais nem sempre temos consciência, podendo ajudar também na resolução de problemas de forma mais clara e resiliente, no desenvolvimento da criatividade e forma de revisitar fatos importantes da vida e, principalmente, no desenvolvimento da Autoconsciência.

Autogestão

Capacidade de lidar com os estados emocionais percebidos. Cada emoção possui uma função que permite nos adaptarmos aos diferentes momentos que vivenciamos durante a nossa vida. Essas emoções nos ajudam no enfrentamento, na tomada de decisão e reação/resposta a cada um.

Segundo Paul Ekman, autor do livro “Emoções Reveladas”, existem pelo menos quatro qualidades humanas que podem ser melhoradas quando compreendemos melhor nossas emoções:


Identificar as próprias emoções com mais facilidade, mesmo antes de agir ou falar;

Escolher como nos comportar em situações de emoções fortes, de forma a atingir os objetivos sem magoar outras pessoas;

Tornar-nos mais sensíveis às emoções alheias;

Usar de forma cuidadosa as informações sobre como os outros se sentem.

Ou seja, podemos alcançar uma vida mais equilibrada, com ambiente e relações mais saudáveis, se soubermos reconhecer o que está acontecendo conosco e com os demais. Gerenciar essas emoções é fundamental.

Uma ferramenta usada para desenvolver maior habilidade na autogestão é body scan, uma prática para ajudar a desenvolver nossa autopercepção de como as emoções se manifestam em nosso corpo.

Empatia

Segundo a professora e escritora Brené Brown, “a empatia consiste em quatro qualidades: a capacidade de assumir a perspectiva de outra pessoa; de afastar-se do julgamento; de reconhecer a emoção nos outros e de comunicá-la”.

Ter empatia é ser capaz de se colocar na perspectiva da outra pessoa, compreendendo suas emoções e sua realidade.

Essa habilidade é fundamental para nossas relações humanas.

Pois, será que estamos realmente “escutando” ou somente “ouvindo”?

Desenvolver uma escuta atenta, com qualidade e empatia contribui para que nossas relações sejam harmônicas e realmente possamos nos conectar com a outra pessoa.

Gestão de
Relacionamento

Pode ser considerada um conjunto de capacidades que te permitem dar respostas adequadas nos diferentes contextos e se relacionar melhor com as outras pessoas.

Essa habilidade é essencial para um bom desenvolvimento pessoal e profissional, interferindo na forma como você se comunica, conhece as suas necessidades e as dos outros, o que resultará em relacionamentos mais fluidos e saudáveis.


Segundo Daniel Goleman, muitas pessoas já têm naturalmente algumas dessas habilidades desenvolvidas. Ele lembra, no entanto, que as pessoas em posição de liderança de grandes empresas que ele conheceu apresentam essas quatro habilidades bem desenvolvidas. “Foram pessoas que souberam identificar seus pontos fracos e otimizar as quatro habilidades.

Impacto positivo na saúde

Para além da questão profissional e dos relacionamentos, o desenvolvimento da inteligência emocional pode gerar impactos positivos na saúde em geral. Ao melhorar a gestão do estresse, diminuímos os níveis de adrenalina e cortisol constantemente liberados em nosso organismo. Isso tende a evitar o aumento da pressão sanguínea, o desenvolvimento de problemas gastrointestinais.

Além disso, o estresse em exagero é um dos fatores que podem desencadear quadros de estresse oxidativo, que está ligado a doenças como Parkinson, catarata, senilidade, Alzheimer, degeneração muscular, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) e até alguns tipos de câncer.

Além do desenvolvimento da inteligência emocional, há outras ferramentas ativas que podem ajudar na gestão do estresse e promoção da saúde. A meditação, o mindful eating,
a prática esportiva e o sono de qualidade são algumas delas. Escolha ou combine as suas e viva melhor.