Essentia Atual

 

Nossa newsletter quinzenal com novidades científicas nas áreas de nutrição e saúde.
Aqui estão as versões que enviamos até agora, fique à vontade para ler os artigos, links e referências.

Essentia Pharma

  14 DE ABRIL DE 2022 | EDIÇÃO 18

Olá!

Seguindo importantes pesquisas sobre melatonina na prática clínica, novas revisões e análises vêm apresentando associações em casos odontológicos, como na doença periodontal, profundamente relacionada com condições sistêmicas.

Interessante observar que mesmo o benefício mais conhecido dessa molécula – o de indutora do sono – está associado à saúde bucal.

Acompanhe nesta edição da Essentia Atual achados sobre a relação da melatonina com a saúde e integridade do periodonto e tratamentos odontológicos adjuvantes.


Melatonina e saúde bucal

A doença periodontal (periodontite) tem sido associada a várias condições sistêmicas, incluindo resultados adversos na gravidez, doenças cardiovasculares, endocardite, diabetes tipo 2, distúrbios respiratórios, pneumonia, osteoporose, Alzheimer, doença renal crônica, síndrome metabólica e, possivelmente, relaciona-se até mesmo com a disfunção erétil (em conjunto com eventos cardiovasculares).

De fato, a periodontite é a infecção oral mais comum que, geralmente, se mostra presente na maioria das doenças que afetam profundamente a longevidade saudável, estando associada ao aumento do risco de mortalidade por todas as causas. Sua característica inflamação crônica lembra a importância vital da conexão sistêmica bucal.    

Crescentemente utilizada de maneira suplementar na prática clínica para ajudar no tratamento de várias condições ou doenças, nos últimos anos, estudos vêm reportando níveis séricos de melatonina mais baixos em pacientes com periodontite, em comparação com indivíduos saudáveis. Outros vêm reportando resultados positivos da suplementação de melatonina como tratamento adjuvante em procedimentos odontológicos.

Isso pode surpreender muitos. No entanto, lembramos que a melatonina, primeiramente mais pensada como envolvida no ritmo circadiano / sono, demonstrou exercer seus efeitos terapêuticos em várias áreas da saúde através de múltiplas ações com seu potencial anti-inflamatório, antioxidante, antimicrobiano, osteogênico, biomarcador e, essencialmente, como agente imunomodulador.

Na realidade, o surpreendente é que mesmo a sua função mais conhecida – de indutora ao sono – está associada à saúde bucal. A disrupção do ritmo circadiano pode prejudicar o primeiro mecanismo de defesa na frente periodontal. Sabe-se que o grau do estágio da periodontite está associado à curta duração do sono, baixa qualidade do sono e baixa qualidade de vida relacionada à saúde bucal. Juntamente com esses e outros aspectos, a melatonina está ligada à integridade estrutural do periodonto.

Tratamento adjuvante

No ano passado, pesquisadores brasileiros (de Oliveira et al., 2021) publicaram em Oral Diseases uma revisão sistemática da literatura sobre a melatonina como tratamento adjuvante em procedimentos odontológicos. Foram incluídos 25 artigos (n = 1417) entre os quais o objeto de pesquisa abrangia diferentes situações, como carcinoma, implante, periodontite, extração dentária, ansiedade, mucosite oral e cirurgias.

Ao focar somente nos resultados encontrados na doença periodontal, doze deles mostraram que quando a melatonina foi administrada, ocorreram melhoras do índice gengival, profundidade da bolsa, índice periodontal e sangramento à sondagem (BOP). Alguns indicaram a redução de mediadores inflamatórios, como fosfatase alcalina, osteocalcina (OCN), osteopontina (OPN), RANK, RANKL,TNF-a, IL-6 e prostaglandina 2 (PGE2).

O tratamento da doença periodontal associado ao uso de melatonina tópica (concentração a 1%, durante 20 dias antes) ou sistêmica (1-6 mg/dia, 30-60 dias antes) apresentou resultados satisfatórios, revelando que independente da via de administração, a melatonina pode atuar como terapia adjuvante no tratamento dessa doença.

Quando usada topicamente, sua dosagem não precisa ser alta para alcançar sua eficiência, provavelmente, devido seu contato direto com os tecidos. Para a administração oral, dependendo de qual condição e tecido, a dosagem de 2 mg/dia mostrou-se suficiente. No entanto, são necessárias doses mais altas para condições emocionais, como ansiedade pré-operatória.

Papel biomarcador

Recém-publicada no Asian Journal of Dental Sciences, uma revisão sistemática e meta-análise foi realizada com intenção comparativa sobre o nível de melatonina salivar entre indivíduos com periodontite ou não. Nela, Baskaran et al. (2022) encontraram de maneira significativa (P < 0.001) que níveis variados de melatonina na saliva, quando detectados, podem abrir caminho para o diagnóstico, comprovando seu papel como biomarcador.

Os níveis de melatonina salivar são aproximadamente de um quarto a um terço daqueles na circulação geral (variando de 1 a 5 pg/mL durante o dia e até 50 pg/mL à noite). Acredita-se que a melatonina salivar entra passivamente nas células mucosas/serosas das glândulas salivares maiores (glândulas parótidas, submaxilares e sublinguais).

No estudo, a formulação tópica de melatonina demonstrou causar uma redução nos níveis de GCF (fluido crevicular gengival), IL-1 beta, IL-6 e PGE2, juntamente com uma redução nos níveis salivares de TNF alfa e uma melhora geral na insônia. Tanto a via oral quanto a tópica causaram uma redução nos níveis salivares séricos de PCR (proteína C reativa) e TNF-alfa, concluindo-se que a suplementação melhora a condição periodontal.

Melatonina na periodontite e obesidade

Ainda mais recente, um estudo (Ismail et Mahmood; 2022) investigou os efeitos da ingestão sistêmica de melatonina nos perfis lipídicos em 60 pacientes com obesidade que apresentavam periodontite, em comparação com 20 indivíduos com peso normal e periodonto saudável (controles) não suplementados.

Para melhor efeito comparativo, os pacientes com obesidade foram divididos em dois grupos: 30 foram submetidos apenas à raspagem e alisamento radicular (SRP); e 30 submetidos à SRP e suplementados com 5mg de melatonina por 1 mês.

Os pesquisadores concluíram que a suplementação oral diária melhorou significativamente a saúde periodontal (índice de placa), mas não o BOP. Quanto aos perfis lipídicos, ocorreram reduções do colesterol total, TG e LDL, e aumento do HDL.

População pediátrica

Na área pediátrica, observa-se que a prevalência de gengivite em crianças pode ser semelhante ou maior do que a cárie dentária. No entanto, a apresentação clínica da progressão/gravidade da gengivite na dentição decídua só é evidente quando a magnitude do infiltrado de células inflamatórias se aproxima da superfície gengival refletida pelos tecidos inflamados.

Apesar de sua aparência clínica relativamente "benigna", o estabelecimento de inflamação crônica dos tecidos periodontais na infância pode ter o potencial de destruição tecidual local levando à periodontite e/ou criar um ambiente de risco, podendo afetar os tecidos ao longo da vida.

Enquanto aguardam-se mais estudos sobre a melatonina na saúde bucal dessa população, já temos evidências pediátricas indicando que as propriedades ansiolíticas e analgésicas da melatonina podem ajudar a amenizar o medo e a ansiedade odontológica – fundamental para tratamentos de prevenção e adesão a tratamentos invasivos.



Fontes:

Baskaran , et al.   Melatonin and Periodontitis – A Systematic Review and Meta Analysis

Ismail HS, et al.  Effect of melatonin supplementation on the gingival health and lipid profiles in obese periodontitis patients

Mesa F, et al. Patients with periodontitis and erectile dysfunction suffer a greater incidence of major adverse cardiovascular events: A prospective study in a Spanish population

Fischer R, et al. Periodontal disease and its impact on general health in Latin America. Section V: Treatment of periodontitis

Carmo A, et al. Association Between Erectile Dysfunction And Periodontal Disease

Arif S, et al. Moving with your biological rhythm: A review on Melatonin and Periodontitis

Poggi E, et al. 
Anxiolytic and Analgesic Effects of Melatonin in Paediatric Dentistry


Essentia Pharma

  23 DE MARÇO DE 2022 | EDIÇÃO 17

Olá!

Em paralelo com o aumento do sobrepeso, a doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) vem aumentando de maneira significativa no mundo. Essa alta na DHGNA ocorre não somente na população de adultos, mas também vem mostrando crescente tendência de alta na população pediátrica.

Uma pesquisa intrigante vem se desenvolvendo sobre a utilidade da melatonina, através de vários mecanismos, como potencializadora terapêutica para a DHGNA.

Nesse cenário, a partir de um recém-publicado estudo randomizado e controlado, trazemos nesta edição da Essentia Atual achados sobre o potencial da ajuda da melatonina no combate a marcadores pertinentes à presença de lesão hepática, como as enzimas alanina aminotransferase e aspartato aminotransferase. 

Acompanhe as descobertas!


Melatonina na potencialização da melhora da doença hepática gordurosa não alcoólica

Geralmente, em doenças associadas com a síndrome metabólica ocorre um aumento nas enzimas hepáticas transferases, especificamente, a alanina aminotransferase (ALT) e o aspartato aminotransferase (AST). Nos últimos anos, para a doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), resultados de estudos realizados em animais e em humanos vêm mostrando que a melatonina possui um efeito positivo significativo nessas enzimas, bem como sobre outros marcadores pertinentes à presença de lesão hepática, assim, tornando-a uma potencial coadjuvante terapêutica.  

Ilustrando o potencial da melatonina como uma coadjuvante terapêutica, Hajiaghamohammadi et al. (2022) investigaram seus efeitos em comparação com a metformina e a vitamina E sobre marcadores hepáticos, e publicaram seus resultados no Journal of Advances in Medical and Biomedical Research, um jornal médico revisado por pares com publicação bimestral.  

Cento e quarenta pacientes com DHGNA foram divididos aleatoriamente em quatro grupos: metformina, melatonina, vitamina E e placebo. Todos os grupos foram colocados no mesmo regime de dieta e tiveram as mesmas mudanças de estilo de vida para aumentar seu tempo de atividade diária.

A ultrassonografia foi utilizada para a avaliação da aparência do fígado. Peso, IMC, AST, ALT, perfil lipídico e glicemia em jejum foram medidos na linha de base, 3 meses e 6 meses depois. Todos os agentes terapêuticos causaram diminuição das aminotransferases. A metformina foi a mais potente na melhora do perfil lipídico e da aparência do fígado. Por outro lado, a melatonina conseguiu apresentar uma diferença significativa no LDL (P = 0,032) e AST (P <0,001).

Entre outros estudos que a testaram por si só, em 2020, Bahrami et al. realizaram um estudo randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, testando a melatonina vs placebo em pacientes com DHGNA.

No estudo, publicado em Complementary Therapies in Medicine, 45 pacientes receberam 6 mg/dia de melatonina ou placebo, 1h antes de dormir, durante 12 semanas.

Uma melhora significativa foi observada no peso (P = 0,043), circunferência da cintura (P = 0,027), circunferência abdominal (P = 0,043), pressão arterial sistólica (P = 0,039) e diastólica (P = 0,015), níveis séricos de leptina ( P = 0,032), hs-CRP (P = 0,024), ALT (P = 0,011), AST (P = 0,034), bem como o grau da esteatose (P = 0,020) no grupo tratado com melatonina em comparação com o placebo. A gama-glutamil transferase (GGT) não melhorou de maneira significativa, mas mostrou tendência de melhora. Os pacientes que receberam a melatonina não apresentaram eventos adversos.

Esses achados confirmam resultados anteriores; no entanto, quanto às trasnferases, alguns estudos anteriores indicaram efeitos positivos da melatonina sobre a GGT, mas não sobre a ALT e/ou a AST. Essa inconsistência de achados pode ser devida à duração do tratamento, dosagem/forma da melatonina e/ou tamanho da amostra. No entanto, um efeito positivo em comum entre a maioria dos estudos parece ser sua ação sobre o metabolismo lipídico no nível intracelular, como frequentemente observado através da via dependente de SIRT1.  

Resumidamente, por exemplo, pelo contexto anti-inflamatório exercido pela melatonina, a ativação da SIRT1 modula a expressão de NLRP3. Evidências acumuladas sugerem que a ativação do inflamassoma NLRP3 aumenta o desenvolvimento de DHGNA em direção à fibrose. Após a ativação, o NLRP3 governa a secreção celular de IL-1β e IL-18, que posteriormente promove o desenvolvimento de resistência à insulina, dislipidemia e deposição de lipídios. Em vários animais modelos, a melatonina inibiu a ativação do inflamassoma NLRP3 (e de NF-κB), sugerindo que sua suplementação pode ser uma estratégia apropriada para prevenir a doença da DHGNA.

Adicionalmente, a ação anti-inflamatória da melatonina também está relacionada à sua atividade como otimizadora da função mitocondrial. E, recentemente, Pivonello et al. (2022) destacaram o seu papel fundamental como melhoradora de metainflamação e infecções na obesidade, abordando que a melatonina poderia regular o sistema imune atuando diretamente na morfologia e atividade do timo, além de regular o estresse oxidativo e a inflamação.

Chama a atenção da pesquisa que os muitos mecanismos que a melatonina participa são geralmente interativos e não completamente independentes, mostrando um grande potencial de ajuda em várias condições ou desequilíbrios metabólicos de saúde.

Portanto, é necessária a realização de estudos randomizados e controlados por períodos mais longos e em maior número de pacientes com DHGNA, testando a replicação dos achados anteriores, diferentes doses e horários de administração. Existe a hipótese, por exemplo, que para a homeostase da glicose, dependendo da genética do paciente com diabetes tipo 2, seria recomendado suplementar a melatonina longe das refeições – lembrando a sua característica modulação do ritmo circadiano.

Muito importante, a prevalência de DHGNA aumenta com a idade, mas ela vem mostrando uma crescente tendência na pediatria, aumentando juntamente com a epidemia mundial de excesso de peso. É urgente a necessidade de tratamentos eficazes para o excesso de gordura no fígado. Pelo seu nível de segurança de uso já evidenciado por múltiplos estudos em variadas áreas da medicina, esses recentes resultados vêm sinalizando a melatonina como uma potencializadora terapêutica para pacientes com DHGNA, em conjunto com mudanças de estilo de vida/dieta e/ou certos fármacos.


Fontes:

Hajiaghamohammadi A, et al.   Comparison of the therapeutic effect of Melatonin, Metformin and Vitamin E in treatment of Non-alcoholic Fatty Liver Disease: A randomized clinical trial .

Banerjee A, et al.  Potentially synergistic effects of melatonin and metformin in alleviating hyperglycaemia: a comprehensive review.

Pakravan H, et al. The Effects of Melatonin in Patients with Nonalcoholic Fatty Liver Disease: A Randomized Controlled Trial.

Mansoori A, et al. The effect of melatonin supplementation on liver indices in patients with non-alcoholic fatty liver disease: A systematic review and meta-analysis of randomized clinical trials.

Pivonello C, et al. The role of melatonin in the molecular mechanisms underlying metaflammation and infections in obesity: A narrative review.

Garaulet M, et al. Interplay of Dinner Timing and MTNR1B Type 2 Diabetes Risk Variant on Glucose Tolerance and Insulin Secretion: A Randomized Crossover Trial

Essentia Pharma

  08 DE FEVEREIRO DE 2022 | EDIÇÃO 16

Olá!

O ciclo de quebra e retomada de uma dieta salubre pelos pacientes é um desafio para muitos profissionais. Por envolver aspectos como estresse e ansiedade, o combate a esse ciclo vicioso vem sendo tentado de diferentes formas. Uma delas envolve a suplementação com prebiótico de galacto-oligossacarídeos (GOS).

Confira nesta edição da Essentia Atual dois estudos que analisaram a influência desse prebiótico no eixo intestino-cérebro, e seus efeitos na adesão dos pacientes à dietas saudáveis. Ambos foram publicados recentemente em Nutrients.

Acompanhe as descobertas!


Prebiótico GOS e a via  intestino-cérebro

A escolha alimentar é um fator crítico na prevenção de doenças ou condições não transmissíveis e, como tal, já é bem sabido que um foco da prevenção primária seria reduzir o excesso de ingestão de alimentos não saudáveis. Um grande porém é a questão do estresse e da ansiedade que, quando não bem administrados, levam muitos a frequentemente escolher alimentos ultrarrefinados, ricos em carboidratos simples, como uma busca de "conforto psicológico" imediato.

Se o "conforto" sentido através do consumo de uma caixa de bombons se resumisse ali, naquele momento pontual, não teria grandes problemas. É vida que segue. A questão é que muitos pacientes sentem dificuldade de, após romper um padrão de dieta saudável, voltar ao ritmo das suas rotinas saudáveis. Assim, permanecem um tempo considerável não somente ingerindo um excesso de alimentos ultrarrefinados como também sentindo um certo "fracasso interno".

A repetição desse comportamento em loop – dieta salubre…momento de descontrole emocional…dieta insalubre (até o momento que o paciente consegue voltar ao equilíbrio)…dieta salubre (até a próxima crise de ansiedade), e assim por diante – vai criando um padrão de desequilíbrio fisiológico-mental-emocional. Esse padrão pode gerar uma insegurança interna, e até mesmo um sentimento de impotência em relação aos alimentos, como observado mais claramente nos casos de distúrbios alimentares.

Interrompendo o ciclo


Nesse complexo contexto, elementos que ajudem a quebrar o loop negativo, cimentando uma via mais positiva ao regular negativamente a ansiedade e sua relação com alimentos ultrarrefinados, são todos muito bem-vindos. Especialmente se esses elementos são nutrientes, como os prebióticos.

Sendo substâncias não digeríveis, como os frutanos e os oligossacarídeos encontrados em grãos integrais, frutas e vegetais, os prebióticos possuem a capacidade de influenciar o eixo intestino-cérebro, ao passo que apoiam o crescimento de bactérias comensais intrínsecas, alterando positivamente o crescimento ou o equilíbrio da ação de certos gêneros desses microrganismos no intestino.

Em estudos de intervenção em humanos e animais, os prebióticos têm conferido amplos benefícios aos processos neurobiológicos, imunológicos, metabólicos e comportamentais. Atualmente, tanto os probióticos (microrganismos vivos) quanto os prebióticos (impulsionadores de microrganismos) são considerados "psicobióticos".

A atribuição causal para esse novo termo na ciência médica é complexa desde que, se o microbioma intestinal pode influenciar a escolha alimentar, a escolha alimentar também pode influenciar o microbioma intestinal.

Publicado em Nutrients, o estudo controlado por placebo de Johnstone et al. (2021) procurou investigar o efeito prebiótico de galacto-oligossacarídeos (GOS) na via intestino-cérebro, levando em consideração o comportamento alimentar, o humor e a composição microbiana intestinal. Escolheram especificamente o GOS porque já em estudo anterior os mesmos pesquisadores descobriram que a sua suplementação ao longo de quatro semanas reduziu a ansiedade e indicadores de comportamento ansioso em uma tarefa cognitiva para participantes do sexo feminino com altos níveis de ansiedade.

As mudanças no nível comportamental foram refletidas por mudanças significativas na composição do microbioma intestinal – na maioria, um aumento na abundância de Bifidobacterium, cuja ação benéfica à saúde já está bem estabelecida. 

Há um crescente corpo de evidências sobre os efeitos na saúde do GOS associados ao conforto digestivo. Esse prebiótico atinge o intestino grosso praticamente intacto para o "deleite" das bactérias para a sua necessária fermentação e consequente benéfica produção de ácidos graxos de cadeia curta.

O estudo

Como no estudo passado, neste atual, Johnstone et al. recrutaram somente mulheres saudáveis (n = 64, idades 18-25) para manter a homogeneidade da população no resultado primário. Sob dieta ad libitum, mas sem alterar sua dieta habitual, as participantes fizeram uso de um diário alimentar (fotografando suas refeições), e a coleta de amostras de fezes ocorreu na linha de base e no 28º dia. 

Divididas às cegas em dois grupos, as participantes receberam: ou um suplemento contendo 5,5g de GOS, ou placebo (maltodextrina, xarope de glicose seco), durante quatro semanas.

O principal achado desse estudo foi que a suplementação com GOS influenciou a escolha da ingestão de macronutrientes, como evidenciado pela redução de carboidratos e açúcares e aumento da ingestão de gorduras. Paralelamente, análises posteriores mostraram o aumento da abundância de Bifidobacterium no grupo GOS, em comparação com o grupo placebo. 

Isso sugere que o aumento de Bifidobacterium via suplementação de GOS pode ajudar a melhorar a composição do microbioma intestinal, alterando o desejo por tipos específicos de carboidratos.

Outra abordagem

Seguindo no contexto intestino-cérebro, a ciência já mostrou que as pessoas com constipação são mais propensas a serem diagnosticadas com problemas de humor e ansiedade.

Sem abordar a questão "cérebro", Shoemaker et al. (2022) investigaram o efeito de GOS (Biotis™) nas características das fezes e microbioma fecal em adultos com constipação.

No estudo, também publicado em Nutrients, 132 adultos (94% mulheres, idade: 18-59 anos) com constipação auto-relatada de acordo com os critérios de Roma IV (incluindo menos de três evacuações por semana) receberam: ou um pó contendo 11g de GOS; ou placebo (maltodextrina) para ser dissolvido em líquido e tomado pela manhã, durante três semanas. Com o objetivo de também investigar o efeito dose-resposta, um terceiro grupo recebeu um pó com 5,5 g de GOS.

Entre outras exigências, foi solicitado aos participantes a interrupção do uso de medicamentos para constipação bem como outros, e a não alteração de suas atividades físicas e dietas habituais já 14 dias antes do início da intervenção. 

Esse estudo randomizado controlado por placebo documentou um efeito clinicamente relevante de 11g de GOS diários naqueles com baixa frequência de evacuações. Uma clara resposta à dose de GOS foi observada sobre a Bifidobacterium fecal, e a dose 11g aumentou significativamente a espécie Anaerostipes hadrus, que pode desempenhar um papel importante na saúde intestinal por produzir ácido butírico. 

Na análise de subgrupo, em que os indivíduos foram divididos com base nas idades (mais jovens vs mais velhos), encontraram um melhor efeito de GOS principalmente nos adultos com 35 anos ou mais. 

Como observação, a variável "idade" pode ser uma grande confundidora por si só, desde que a idade biológica pode ser diferente da cronológica, dependendo de diversos outros fatores de saúde e estilo de vida do paciente. 

Ademais, mesmo que Shoemaker et al. não tenham incluído no design do seu estudo randomizado uma métrica para ansiedade e escolhas alimentares, curiosamente, a evacuação parte de um movimento do intestino que estimula o nervo vago – um modulador da via intestino-cérebro –, podendo diminuir a frequência cardíaca e a pressão arterial o suficiente para fazer com que uma pessoa se sinta mais relaxada.

Quem sabe, essa curiosidade ilustrativa da via intestino-cérebro pode ajudar o seu paciente a compreender a importância do uso de prebióticos, como o GOS (com uma boa ingesta de água) – se no caso de constipação, dificuldade de manter uma certa constância na escolha alimentar saudável, distúrbio alimentar/comportamental, neurobiológico, imunológico e/ou metabólico.
 


Fontes:

Johnstone N, et al.  Nutrient Intake and Gut Microbial Genera Changes after a 4-Week Placebo Controlled Galacto-Oligosaccharides Intervention in Young Females.

Schoemaker M, et al.  Prebiotic Galacto-Oligosaccharides Impact Stool Frequency and Fecal Microbiota in Self-Reported Constipated Adults: A Randomized Clinical Trial.

Essentia Pharma

  12 DE JANEIRO DE 2022 | EDIÇÃO 15

Olá!

Cada vez mais, o magnésio vem tendo sua suplementação estudada como ferramenta para fortalecer o metabolismo da glicose e evitar mudanças na composição corporal, hiperglicemia e maior resistência à insulina.

Assim, para esta Essentia Atual, preparamos uma atualização panorâmica sobre o assunto, relacionando uma revisão sistemática recente com dados nacionais e mundiais sobre o consumo pela população e as propriedades do magnésio no metabolismo da glicose. 

Acompanhe as descobertas!


Magnésio para um melhor metabolismo da glicose

Há um grande e crescente corpo de literatura focando o uso da suplementação oral de magnésio (Mg) para melhorar o metabolismo da glicose em pessoas com ou em risco de diabetes. Um passo adiante, a resistência à insulina, caracterizada por alterações na secreção de insulina pelo pâncreas e na ação da insulina nos tecidos-alvo, também tem sido associada ao status inadequado de Mg – um importante eletrólito para inúmeros caminhos para a homeostase corporal.

A desregulação do mecanismo da glicose leva a mudanças na composição corporal, à hiperglicemia e à resistência à insulina. Assim, o metabolismo da glicose está no foco de várias pesquisas desde que ele está vinculado a possíveis outras desregulações das vias fisiológicas. E essas levam a situações de saúde predominantemente observadas em processos de envelhecimento acelerado, como o sobrepeso/obesidade, o diabetes mellitus e o risco de DCV.

Com base no conjunto da pesquisa, parece evidente a necessidade de uma intervenção mais cedo na trajetória da glicose, especialmente no período pós-prandial, para manter a homeostase da glicose o mais próximo do normal possível e antes que as pessoas recebam um diagnóstico bioquímico de pré-diabetes ou diabetes. É provável que, por exemplo, as alterações no epitélio vascular que não conseguem ser revertidas simplesmente pela redução da glicose sanguínea já tenham ocorrido no momento do diagnóstico de diabetes mellitus.

Revisão sistemática e meta-análise de ensaios clínicos


Como os ensaios clínicos randomizados conseguem incluir apenas um pequeno número de participantes, Veronese et al. realizaram uma revisão sistemática e meta-análise de ensaios clínicos duplo-cegos, randomizados e controlados por placebo, para investigar o efeito do Mg sobre os parâmetros da glicose e da sensibilidade à insulina. Todos os participantes dos 25 ensaios incluídos na revisão apresentavam ou diabetes ou condições que os colocavam em um alto risco de desenvolver diabetes, incluindo obesidade/sobrepeso, síndrome metabólica, insuficiência renal, histórico familiar de diabetes e pré-diabetes.

A conclusão é otimista: o resultado da investigação revelou que a suplementação oral de Mg não apenas diminuiu significativamente a glicose plasmática após 2h com 75g de glicose no teste oral de tolerância à glicose, mas também a glicose plasmática de jejum e HOMA-IR. E, muito importante, a presente revisão, recém-publicada em Nutrients, também encontrou que a suplementação de Mg se mostrou bem tolerada e sem efeitos adversos significativos.

Ingestão e status de magnésio


Entre as várias peças do complexo mecanismo de saúde, está a nutrição, e aqui, mais especificamente, a ingestão de magnésio. Pesquisas dietéticas de pessoas em várias partes do mundo mostram consistentemente que muitas pessoas consomem menos do que as quantidades recomendadas de Mg. Uma análise dos dados do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) de 2013-2016 descobriu que 48% dos americanos de todas as idades ingerem menos Mg do que suas respectivas necessidades médias estimadas (enquanto saudáveis).

Resultados de ingestão deficitária de Mg no Brasil já foram apontados em estudos. Dentre eles, em 2013, Fisberg et al. publicaram na Revista Saúde Pública uma análise de dados do Inquérito Nacional de Alimentação como parte da Pesquisa de Orçamentos Familiares (2008-2009). Em adultos com idades a partir de 60 anos foram observadas elevadas prevalências de inadequação (> 50%) de magnésio (e das vitaminas E, D, A, cálcio, e piridoxina). O magnésio teve prevalência de ingestão inadequada (> 80%) em todas as regiões brasileiras.

Mais recentemente, Coelho et al. (2020) publicaram uma pesquisa realizada com dados das Unidades Básicas de Saúde de Caxias, no Maranhão, onde encontraram um baixo consumo de Mg nos pacientes hipertensos. Anteriormente, estudos mostraram que a suplementação de magnésio pode ajudar a reduzir a pressão arterial pelo aumento da produção de óxido nítrico.

Como lembrete, além do aporte nutricional deficitário nas dietas regulares, perdas excessivas de magnésio podem ocorrer sob dietas restritivas e, estando associado ou não com o metabolismo da glicose, em muitas outras situações: 

■ estados hipercatabólicos, como traumatismos, queimaduras, pós-operatórios ou infecções graves;
■ casos de alcoolismo, hidratação intravenosa sem magnésio e nutrição parenteral prolongada;
■ má absorção devido a bypass, fístulas ou doença intestinal inflamatória; 
■ aumento da excreção devido a vômitos frequentes, diarreia, síndrome do intestino curto, doença de Chron, retocolite ulcerativa, poliúria, pancreatite aguda, fístulas digestivas de alto débito e aspiração gástrica prolongada;

■ disfunção tubular de causa metabólica, por acidose metabólica, resistência à insulina, diabetes tipo 2, hipopotassemia ou hipofosfatemia; 
■ disfunção tubular induzida por medicamentos diuréticos, anfotericina B ou aminoglicosídeos;
■ desordens endócrinas, tais como doença de Addison, hiperaldosteronismo, hiperparatireoidismo, hipo ou hipertireoidismo; maior excreção renal e menor absorção intestinal relacionadas devido ao envelhecimento; interação medicamentosa.

Fontes:

Veronese N, et al. Oral Magnesium Supplementation for Treating Glucose Metabolism Parameters in People with or at Risk of Diabetes: A Systematic Review and Meta-Analysis of Double-Blind Randomized Controlled Trials.

National Institutes of Health. Magnesium - Fact Sheet for Health Professionals.

Brazilian Journal of Surgery and Clinical Research. Avaliação do consumo de magnésio em pacientes hipertensos.

Fisberg R, et al. Ingestão inadequada de nutrientes na população de idosos do Brasil: Inquérito Nacional de Alimentação 2008-2009.

Monteiro, Thaís e Vannucchi, Helio. Funções Plenamente Reconhecidas de Nutrientes: Magnésio.

Essentia Pharma

  15 DE DEZEMBRO DE 2021 | EDIÇÃO 14

Olá!

Especialmente expostos a fatores potencialmente causadores de estresse oxidativo, como hipóxia, hiperóxia, acidose, infecções e transfusões, os recém-nascidos prematuros estão sujeitos a desenvolver condições classificadas como "doenças dos radicais livres da prematuridade".

Nesse cenário, ganha importância o estudo piloto que resumimos nesta edição da Essentia Atual. A pesquisa, realizada na Itália, avaliou as concentrações plasmáticas de melatonina e biomarcadores de estresse oxidativo em recém-nascidos prematuros após administração precoce de melatonina. 

Acompanhe as descobertas!


Estudo piloto: melatonina em recém-nascidos prematuros

Quando estudos mostram que a melatonina, entre tantos benefícios, pode ajudar inclusive gestantes e bebês em certas situações, a sua presença durante a evolução das espécies – espelhando a vida – vem à lembrança. Para se ter uma ideia, a melatonina teve origem há cerca de 2,5 bilhões de anos e está presente em todos os organismos, desde bactérias até humanos. Durante todo esse percurso, a sua estrutura nunca foi alterada.

Entre suas propriedades, como as antioxidantes, de eliminação do excesso de radicais livres, anti-inflamatórias, antiapoptóticas e analgésicas, a melatonina modula as citocinas pró e anti-inflamatórias em várias situações fisiopatológicas em que o equilíbrio entre elas determina o resultado clínico, inibindo a expressão de ciclooxigenase e óxido nítrico sintase induzível (iNOS), a produção de óxido nítrico induzida por lipopolissacarídeo e a ativação do inflamassoma.

Esse fato é de importância clínica se considerarmos que a inflamação está estritamente relacionada ao excesso de estresse oxidativo na patogênese de muitas doenças, aqui, em especial, as que afetam os recém-nascidos, principalmente se forem prematuros. Isso porque nos primeiros dias de vida, inúmeros fatores podem ser responsáveis pela superprodução de radicais livres/estresse oxidativo, como hipóxia, hiperóxia, acidose, infecções, transfusões, exposição a drogas, dores e estresse emocional.

Com o objetivo de avaliar as concentrações plasmáticas de melatonina e biomarcadores de estresse oxidativo em recém-nascidos prematuros após administração precoce de melatonina, um estudo piloto prospectivo, randomizado e duplo-cego controlado por placebo foi conduzido na Itália com trinta e seis recém-nascidos prematuros.

A partir do primeiro dia de vida, 21 deles receberam uma dose de melatonina oral de 0,5 mg/kg uma vez ao dia, pela manhã; e 15 recém-nascidos receberam uma dose equivalente de placebo. As concentrações plasmáticas de melatonina, ferro não ligado a proteínas (NPBI), produtos proteicos de oxidação avançada (AOPP) e F2-isoprostanos foram medidos. Os bebês foram acompanhados clinicamente até a alta. 

Em 48 horas de vida, as concentrações sanguíneas médias de F2-Isoprostanos, gerados durante a peroxidação lipídica, foram significativamente menores no grupo suplementado do que no grupo placebo (36.48 ± 33.85 pg/mL vs. 89.97 ± 52.01 pg/mL). Esse resultado é particularmente importante, uma vez que a medição precoce desse biomarcador foi recentemente descrita para ajudar a identificar bebês prematuros extremos com pontuação anormal de lesão de substância branca, com um valor de corte de 31,8 pg/mL.

Além disso, níveis elevados de F2-Isoprostanos urinários foram encontrados no segundo dia de vida em recém-nascidos com alto risco de desenvolver persistência do canal arterial. Entre outros, seus níveis aumentados também foram relatados em recém-nascidos prematuros afetados por displasia broncopulmonar ou leucomalácia periventricular. Todas essas condições representam algumas das doenças peculiares da prematuridade, atualmente agrupadas como "doenças dos radicais livres da prematuridade" por causa das vias comuns na patogênese.

O estudo de Marseglia et al. – recém-publicado no jornal Oxidative Medicine and Cellular Longevity – encontrou que a administração precoce de melatonina em recém-nascidos prematuros reduziu a peroxidação lipídica nos primeiros dias de vida, demonstrando uma potencial estratégia terapêutica de proteção dessa população.

A melatonina fetal é de origem materna e, após o nascimento, os recém-nascidos a termo apresentam secreção irregular de melatonina por 3-5 meses, levando a uma deficiência transitória de melatonina no período neonatal e nos primeiros meses de vida. Já no caso da prematuridade, a maturação da rede neurológica que controla a secreção de melatonina sofre um retardo, levando a uma secreção deficiente por um período ainda mais longo. 

Fonte:

Marseglia L, et al. Pathophysiology and Therapeutic Strategies for Perinatal Organ Injury Caused by Disturbed Oxygenation.

Essentia Pharma

  18 DE NOVEMBRO DE 2021 | EDIÇÃO 13

Olá!

Impactada por fatores internos e externos, a pele vem tendo seu processo de envelhecimento esclarecido recentemente. A partir dessas revelações, pesquisadores estudaram o potencial dos probióticos como via terapêutica para frear esse processo.

Em estudo clínico publicado no Journal of Cosmetic Dermatology, e resumido nessa Essentia Atual, pesquisadores relacionaram a suplementação com a bactéria Streptococcus thermophilus à estimulação da síntese de colágeno, à proteção do DNA contra danos e à inibição das atividades da hialuronidase, além do favorecimento à modulação do estresse oxidativo interno.

Acompanhe a descoberta!


O potencial dos probióticos na expossômica da pele: Streptococcus thermophilus

A pesquisa atual do expossoma visa compreender os efeitos, em órgãos específicos, de todos os fatores internos, como espécies reativas de oxigênio, e externos, como irradiação UV, tabagismo, dieta, sono e poluição. O expossoma do envelhecimento da pele vem recebendo grande atenção hoje, e os probióticos aparecem cada vez mais como uma potencial via terapêutica sem apresentar toxidade.

Certos microrganismos (bactérias ou leveduras) podem interferir no envelhecimento da pele, bem como no desenvolvimento de certas condições, como a dermatite atópica alérgica, rinite e cicatrização de feridas em roedores e humanos. Embora os detalhes do mecanismo pelo qual esses microrganismos fazem isso não sejam claros, algumas hipóteses envolvem a restauração do valor do pH da pele à sua faixa normal e a inibição da atividade da protease na pele envelhecida, possivelmente pela inibição das atividades inflamatórias.

Citando algumas evidências, Lactobacillus plantarum reduziu as rugas da pele e a expressão de MMPs-2, MMPs-9 e MMPs-13 em camundongos afetados por UVB, e seus benefícios clínicos de redução do enrugamento e aumento do brilho e hidratação da pele humana foram verificados. L. johnsonii  e L. johnsonii NCC533  mostraram recuperar a atividade das células de Langerhans em voluntários saudáveis ​​cuja pele foi irradiada com uma dose moderada de irradiação UV. Visivelmente, L. casei subsp. casei 327 melhorou significativamente as condições clínicas da pele ao manter a integridade da epiderme.

Agora, recém-publicado no Journal of Cosmetic Dermatology, pesquisadores de Taiwan trazem um detalhado estudo no qual executaram a análise de mais uma cepa para atuar como uma contrapartida sobre o expossoma do envelhecimento da pele: Streptococcus thermophilus (TCI633) –  um probiótico tradicionalmente usado em laticínios, como iogurte e queijo.

Anteriormente, estudos mostraram que S. thermophilus produziu vários tipos de polissacarídeos extracelulares com diferentes composições de monômeros e foi capaz de induzir um nível crescente de ceramida no estrato córneo de indivíduos saudáveis ​​e pacientes com dermatite atópica. Esse microrganismo mostrou poder aliviar a inflamação do tecido sinovial, representando assim um potencial para mitigar a progressão da osteoartrite.

Muito importante, ao colonizar o trato gastrointestinal de roedores e humanos, sua presença atua na produção de ácido hialurônico (AH), uma molécula-chave no envelhecimento da pele.


No estudo atual, os pesquisadores analisaram a proteção do DNA, a hialuronidase, a viabilidade celular e a síntese de colágeno em conjunto com marcadores visuais como textura, rugas e elasticidade da pele através de suplementação oral em 30 voluntários saudáveis (35-55 anos) divididos em 2 grupos, que receberam ou 5 × 109  de S. thermophiles (vivos) por dia, ou placebo, durante 8 semanas. 

Cada participante foi submetido à inspeção da condição da pele nas semanas 0, 4 e 8 e testes de hematologia para monitorar AH, SOD, níveis de catalase e funções renal e hepática nas semanas 0 e 8.

Oito semanas de intervenção no grupo suplementado resultou em aumento significativo nos níveis médios de umidade, brilho e elasticidade da pele em 12,8%, 3,4% e 11,4%, respectivamente, em relação aos níveis basais. Os níveis médios de profundidade dos pés de galinha nesses indivíduos nas semanas 4 e 8 foram 25,5% e 32,8% mais baixos, respectivamente, do que o nível basal.

Adicionalmente, os níveis médios de textura da pele, rugas, poros e manchas no final do estudo foram 14,2%, 21,6%, 12% e 4,6% mais baixos, respectivamente, do que os valores basais.


Quanto à produção de colágeno, no grupo suplementado foram observados aumentos nas semanas 4 e 8 de 12,8% e 20,7%, respectivamente, do que os valores basais. No grupo placebo, os níveis médios de colágeno nas semanas 4 e 8 foram 4,5% e 7,7% maiores, respectivamente, do que os valores basais.

Em resumo, esse estudo clínico preliminar descobriu que a atividade de S. thermophilus (TCI633) promoveu a proliferação de células da pele, a estimulação da síntese de colágeno, a proteção do DNA contra danos e a inibição das atividades da hialuronidase. Ocorreu um aumento na capacidade antioxidante, conforme indicado pela elevação da atividade sanguínea da SOD e da catalase dos indivíduos, favorecendo a modulação do estresse oxidativo interno. 

Muito positivamente, a dose utilizada, que se assemelha aos critérios utilizados na produção de alimentos probióticos, demonstrou não apresentar toxidade para as células. O probiótico Streptococcus thermophilus já é utilizado, por exemplo, para a saúde da flora intestinal e minimização da incidência de alergias, e os achados do estudo atual trazem uma possibilidade terapêutica do seu uso como parte estratégica no antienvelhecimento da pele sem enfrentar as comuns limitações de formulações tópicas como a baixa estabilidade, dificuldades de penetração na pele ou de eficácia.

Fonte:

Liu C, et al. The potential of Streptococcus thermophiles (TCI633) in the anti-aging.

Essentia Pharma

  13 DE OUTUBRO DE 2021 | EDIÇÃO 12

Olá!

Uma das grandes questões da saúde física e mental contemporânea, o estresse crônico vem sendo abordado de diversas formas pela ciência médica. Dos medicamentos aos suplementos, passando também por intervenções psicoterapêuticas. E é uma dessas intervenções, a prática de exercícios respiratórios, o tema central desta Essentia Atual.    

Essa ferramenta simples e de baixo custo vem se mostrando eficiente para influenciar a atividade do sistema nervoso autônomo, incluindo a frequência cardíaca. Estudos mostram que um exercício respiratório de apenas 5 minutos pode promover um equilíbrio entre as atividades simpática e parassimpática, aumentar a variabilidade da frequência cardíaca e promover a coerência psicofisiológica.

Acompanhe!


Respiração para equilibrar a carga de estresse sobre o corpo-mente

Uma constante preocupação da sociedade atual é em relação ao estresse. Pouco considerado até algumas décadas atrás, o estresse é definido como uma tensão das funções físicas e mentais causada por condições adversas e exigentes dentro e fora do corpo. O estresse evoca respostas biológicas adaptativas para lidar com ele para o bem-estar e a sobrevivência. Quando excessivo ou constante, pode causar disfunções cognitivas, depressão, ansiedade elevada, aumentando o risco de vários desequilíbrios biológicos, se não a maioria.

Outra preocupação muito comum atualmente é quanto à imunidade, que entrou em maior foco devido ao receio do coronavírus.

O estresse crônico pode, de formas diferentes, levar a uma condição conhecida como atrofia tímica ou aceleração da involução do timo, que afeta diretamente a saúde do sistema imune. Isto é, não somente as células T, como também as células que apoiam o seu desenvolvimento, incluindo as células epiteliais do timo, outras células imunes (B, dendríticas e macrófagos), células estromais mesenquimais e endoteliais.

Muitos estudos vêm sendo publicados sobre esse complexo contexto, que está direta e indiretamente relacionado à longevidade.

Embora existam vários tratamentos farmacológicos para apaziguar o estresse ou a ansiedade, ocorre que, às vezes, eles são ineficazes e associados a efeitos iatrogênicos prejudiciais. Portanto, o seu uso crônico pode não ser uma boa alternativa. Por outro lado, e de forma geralmente segura, certos nutrientes têm o poder de ajudar no gerenciamento do estresse.

Um exemplo foi demonstrado em estudo randomizado e controlado, recém publicado em Brain and Behavior, onde a suplementação de ômega-3 + vitamina D melhorou a depressão, ansiedade e qualidade do sono em mulheres (15-50 anos) com pré-diabetes e hipovitaminose D.

Respiração e sistema parassimpático

Em outra linha, as intervenções psicoterapêuticas têm ganhado popularidade no combate ao estresse crônico. Esse é o caso, especialmente, da respiração abdominal. Trata-se de uma técnica simples, eficiente e de baixo custo para reduzir a ansiedade gerada pelo estresse. Uma ferramenta "de dentro para fora", que uma vez aprendida, o paciente leva para a sua vida, "ligando" e "desligando" conforme sua necessidade.


A respiração pode, de fato, afetar diretamente a atividade do sistema nervoso autônomo, incluindo a frequência cardíaca. Um exercício respiratório – mesmo tão curto quanto 5 minutos – com uma relação igual entre a inalação (inibição do fluxo vagal e com a predominância simpática ocorre a aceleração da frequência cardíaca) e a exalação (restauração do fluxo vagal, resultando em uma desaceleração da frequência cardíaca) promove um equilíbrio entre as atividades simpática e parassimpática, aumenta a variabilidade da frequência cardíaca (VFC) e promove a coerência psicofisiológica.

Com o título "Benefits from one session of deep and slow breathing on vagal tone and anxiety in young and older adults" (em português, Benefícios de uma sessão de respiração profunda e lenta no tônus vagal e ansiedade em adultos jovens e idosos), um estudo recém-publicado em Scientific Reports explorou a hipótese de uma sessão de respiração mais concentrada no sistema parassimpático, ou seja, a exalação mais longa do que a inalação.

A princípio, a duração da inspiração e da expiração – lentas e profundas – foram iguais (4 segundos) e depois, a expiração foi ficando mais longa que a inspiração, 6 e 4 segundos, respectivamente. A sessão durou somente 5 minutos.

Como esperado, a ansiedade subjetiva diminuiu significativamente entre adultos jovens e mais velhos (n= 47) após apenas 5 minutos da respiração lenta e profunda. Além disso, o estresse fisiológico também diminuiu, conforme indicado por um aumento significativo na potência HF (frequência alta, a qual reflete a atividade parassimpática e corresponde à VFC relacionada ao ciclo respiratório).

Esses resultados são consistentes com outros estudos passados, que investigaram a eficácia da respiração lenta e profunda na atividade vagal e no nível de ansiedade percebido.


Por outro lado, um resultado não esperado veio através do aumento da potência HF, que foi significativamente maior nos adultos mais velhos do que nos mais jovens, mesmo que ambos os grupos apresentassem um nível equivalente de potência HF no início do estudo. 

Em outras palavras, a respiração lenta e profunda parece beneficiar mais o fluxo vagal em participantes mais velhos. Esse achado é congruente com estudos que investigam a estimulação do nervo vago transcutânea, que sugeriram que a estimulação vagal pode ser particularmente eficaz em adultos mais velhos saudáveis, em comparação com adultos mais jovens.

Da mesma forma, estudos sugerem que a VFC é um marcador de envelhecimento saudável associado ao gerenciamento do estresse entre indivíduos mais velhos e que o declínio relacionado à idade na VFC não é inevitável.

Como tal, ao promover a atividade do nervo vagal, uma intervenção simples, por meio de uma relação inspiração/expiração baixa, pode ser uma catalisadora para o gerenciamento da ansiedade e da regulação emocional. Se esse for realmente o caso, uma indução mais longa pode não apenas aumentar muito o tônus vagal, mas também diminuir muito mais o estado de ansiedade em adultos mais velhos. 

Com esses achados em mente, é inevitável a lembrança da origem da palavra "doutor", derivada do latim docere: "ensinar". Não seria surpresa, mas profunda admiração, médicos, durante cinco minutos do tempo da consulta, considerando o ensino de exercícios de respiração como medicamento para pacientes cujo estresse pode estar afetando a saúde, seja a mental, a imune, a vascular, a estética ou até mesmo a saúde dos relacionamentos, desde que um sistema está conectado ao outro, como o fluxo da respiração.


Fontes:

Rajabi-Naeeni M, et al. Effect of omega-3 and vitamin D co-supplementation on psychological distress in reproductive-aged women with pre-diabetes and hypovitaminosis D: A randomized controlled trial.

Magnon V, et al. Benefits from one session of deep and slow breathing on vagal tone and anxiety in young and older adults | Scientific Reports.

Ishikawa Y, Furuyashiki T. The impact of stress on immune systems and its relevance to mental illness.

Essentia Pharma

  21 DE SETEMBRO DE 2021 | EDIÇÃO 11

Olá!

Há décadas, o whey protein é utilizado com destaque para a recuperação e o ganho de massa muscular. Mas, o que a ciência vem evidenciando seguidamente é que seus benefícios vão muito além disso, colocando-o como uma substância nutricional superior. 

Nesta edição da Essentia Atual, trazemos um artigo que revisa a literatura científica publicada sobre os possíveis benefícios clínicos de incluir o whey protein na dieta. Entre as novas indicações estão: controle da hipertensão arterial e do diabetes, auxiliar de dietas, adjuvante no tratamento do câncer, sarcopenia, doenças hepáticas e cardíacas e fortalecimento do sistema imune.
 

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Essentia Pharma

  11 DE AGOSTO DE 2021 | EDIÇÃO 10

Olá!

Nesta edição da Essentia Atual te convidamos a acompanhar o estágio dos estudos que investigam a melatonina como um potencial agente terapêutico contra doenças infecciosas, em especial, a Covid-19.

Com propriedades multifacetadas e resultados positivos obtidos contra outros vírus letais, a melatonina mostra potencial para prevenção/imunização e tratamento contra o coronavírus.

Esse é o foco de artigo publicado na revista da Associação Brasileira de Prática Ortomolecular (Ambo), que reproduzimos no nosso Blog do Prescritor. 

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Essentia Pharma

  30 DE JUNHO DE 2021 | EDIÇÃO 9

Olá!

Nessa edição da Essentia Atual te convidamos para uma viagem pela evolução do conhecimento da ciência médica sobre as funções e a importância do ômega-3 para o organismo humano da atualidade. 

Desde as primeiras descobertas sobre seus efeitos anti-inflamatórios, na década de 1970, até o atual debate, nos Estados Unidos e Canadá, sobre sua potencial inclusão em uma nova Ingestão Diária Recomendada (DRI).

Acompanhe!


Ômega-3: um nutriente essencial

Desde 1978, quando Jørn Dyerberg et al. perguntavam com tom de surpresa no título de seu estudo, "Eicosapentaenoico para a prevenção de trombose e aterosclerosis?", o interesse nos efeitos sobre a saúde dos ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa ômega-3 (em especial, DHA e EPA) tem sido central nas ciências da nutrição, estando, atualmente, no páreo das moléculas mais pesquisadas com a penicilina, vitamina D, aspirina, prednisona, ácido fólico e vitamina E. 

O significativo número de publicações semanais de diferentes projetos de estudos mostra um contínuo interesse da pesquisa farmacológica sobre os metabólitos de organismos aquáticos para as atividades anti-inflamatórias. As biomoléculas são classificadas em diferentes classes químicas, abrangendo proteínas, sesquiterpenoides, diterpenos, esteroides, polissacarídeos, alcaloides, ácidos graxos, etc.

Em relação aos ácidos graxos, no meio de tantos achados é muito comum esquecermos que os constituintes do ácido graxo ômega-3 (⍵-3) são nutrientes lipídicos de extrema importância. Diferente do uso pontual de um medicamento específico para o tratamento de uma condição, um nutriente, sob adequada dose e biodisponibilidade, além de poder otimizar um tratamento farmacológico de saúde, e mesmo poder melhorar certos desequilíbrios por si só, ele faz parte da nutrição e regeneração dos sistemas orgânicos, constantemente.

Essas gorduras de animais e óleos de plantas fornecem energia, mediação de nutrientes, transdução de sinal, prevenção de doenças, isolamento térmico, estrutura da membrana celular e proteção de órgãos através de diferentes ações de equilíbrios inflamatórios e anti-inflamatórios e de processos imunes.

Os ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa ômega-6 (⍵-6) também são essenciais e fazem parte dessas ações. Mas dele não se observa deficiência nas dietas e, portanto, nas populações, como no caso do ⍵-3.

Proporção entre ômega-3 e ômega-6

Os alimentos na era moderna são compostos de níveis mais elevados de ⍵-6 em comparação com os alimentos consumidos por humanos (e por animais) de outrora. Consequentemente, a razão ⍵-6 : ⍵-3 (determinante do perfil de eicosanoides) se alterou nos organismos, desequilibrando os sistemas pró e anti-inflamatórios, tão importantes para a manutenção da saúde sistêmica.

Ou seja, de uma proporção ⍵-6 / ⍵-3 aproximada de 1 : 1, durante a evolução recente passou para aproximadamente 20 : 1. Um exemplo do malefício desse desequilíbrio é sentido através da prevalência atual de sobrepeso e obesidade.

Estudos recentes em humanos mostram que, além das quantidades absolutas de ingestão desses ácidos graxos, a proporção ⍵-6 : ⍵-3 desempenha um papel importante no aumento do desenvolvimento da obesidade por meio de metabólitos eicosanoides AA (ácido araquidônico, muito encontrado nos fosfolipídios de animais alimentados com grãos, laticínios e ovos) e hiperatividade do sistema canabinoide, que pode ser revertido com o aumento da ingestão de ácido eicosapentaenoico e ácido docosahexaenoico (respectivamente, EPA e DHA, encontrados especialmente nos óleos de peixe e em peixes gordurosos). 

Existe uma considerável dinâmica metabólica no equilíbrio das proporções de ácidos graxos dos tecidos. É sabido que o ácido linoleico (LA; ⍵-6) e o ácido linolênico (ALA; ⍵-3) competem pelas mesmas enzimas elongase e dessaturase na síntese de ácidos graxos poli-insaturados mais longos, como o AA, o EPA e o DHA.

Alguns alimentos de base terrestre também possuem ⍵-3, no entanto, ou em menor escala, como nas carnes, ou sob a forma de ALA que exige do organismo a (lenta) conversão, como nos óleos encontrados nas plantas. Dependendo do metabolismo individual, essa conversão pode representar um desafio para os que aderem a dietas à base de plantas, sem suplementação. Além deles, o cuidado se faz necessário em pacientes sob certas condições, como visto em um estudo recém-publicado que observou um déficit de ⍵-3 em pacientes com obesidade antes da gastroplastia em Y de Roux. Após a cirurgia (mais realizada no mundo), o déficit aumentou mais ainda.

Níveis de ingestão de ômega-3 no mundo

Os sistemas de produção animal terrestre sofreram mudanças nos últimos 100 anos. Nos sistemas de produção de ruminantes, por exemplo, percebe-se que a aplicação de dietas volumosas de baixa qualidade nutritiva, além de pastagens não mistas reduziu a ingestão animal de ⍵-3 e, como consequência, o nível do nutriente na carne. Mesmo na produção de animais aquáticos já se observou certa redução dos níveis de ⍵-3, talvez consequente da mudança climática. A suplementação ou "fortificação" começa a se tornar necessária na dieta animal geral para seu melhor desenvolvimento sob diversos ângulos, desde a lactação.

Com ainda poucos dados brasileiros, aproximadamente 80% dos australianos não estão atingindo a ingestão recomendada de ⍵-3 para uma saúde ideal. Menos de 3% dos canadenses parecem apresentar níveis de índice ômega-3 (IO-3) > 8%, na faixa de baixo risco de doença coronariana. Nos Estados Unidos, mais de 95% das crianças e 68% dos adultos que participaram de um grande estudo apresentaram concentrações do nutriente abaixo das recomendadas pelas suas diretrizes dietéticas (DGA), e cerca de 89% dos adultos tinham IO-3 na categoria de alto risco cardiovascular.

Uma revisão global publicada em Progress of Lipid Research, ao analisar o nível de ⍵-3 sanguíneo das populações, observou que as regiões com altos níveis de EPA + DHA (> 8%) incluíram o Japão, Escandinávia e áreas com populações não totalmente adaptadas aos hábitos alimentares ocidentalizados. Entre os países com níveis muito baixos (≤ 4%), o Brasil está incluso. 

A recomendação padrão

O conselho geral dos profissionais de saúde é consumir 2 refeições de peixe (com certa gordura e não frito) por semana para elevar o ⍵-3 no corpo. Uma grande análise conjunta de quatro grandes estudos de coorte internacionais recém-publicada no JAMA apoia esse conselho ao descobrir sua associação a um menor risco de DCV e mortalidade em indivíduos de alto risco.

No entanto, sem entrar na complexa questão da presença de mercúrio atualmente existente em certos peixes, uma pergunta é fundamental: quantos indivíduos ou pacientes, de fato, conseguem aderir a tal recomendação? 

Com o entendimento de que a manutenção de níveis ótimos de ⍵-3 se mostra imprescindível, e considerando-se a individualidade metabólica individual, além das diferentes biodisponibilidades de diferentes alimentos e formulações/doses de suplementos – o que pode gerar um confundidor nos achados científicos –, estudos modernos passaram a se concentrar no nível de ⍵-3 encontrado nas membranas dos eritrócitos.

Nutriente essencial

Outro avanço desse entendimento vem através de uma atual discussão sobre incluir EPA e DHA na diretriz de ingestão dietética de referência (DRI) em relação ao risco de DCV e para o desenvolvimento infantil, o que pode ajudar que todos percebam o ⍵-3 como um nutriente que precisa ser ingerido como, digamos, a vitamina C ou o complexo B.

Ademais, as DRIs foram originalmente estabelecidas sem pensar nos pacientes com presença de inflamações crônicas, numa época em que, p.ex., o sobrepeso não se mostrava predominante nas populações.

Finalizando, um panorama da essencialidade do nutriente ⍵-3 pode ser observado na longevidade, como reportado em (mais) uma meta-análise recém-publicada na Nature Communications. Nela, pessoas com níveis sanguíneos de ⍵-3 EPA e DHA mais elevados viveram mais do que aquelas com níveis mais baixos. Em outras palavras, aquelas pessoas que morreram com níveis relativamente baixos de ⍵-3, morreram prematuramente. 

A análise prospectiva de dados agrupados de 17 coortes diferentes de todo o mundo incluiu 42.466 pessoas acompanhadas por 16 anos em média. As pessoas que tinham os níveis mais altos dos nutrientes EPA + DHA na membrana dos eritrócitos (percentil 90º vs 10º, que variou entre 3,5% a 7,6%) apresentaram:

• 15% redução de DCV

11% redução de câncer

13% redução de todas as outras causas combinadas


Fontes:

Dyerberga J, et al. Eicosapentaenoic acid and prevention of thrombosis and atherosclerosis?

Hajri T, et al. Depletion of Omega-3 Fatty Acids in RBCs and Changes of Inflammation Markers in Patients With Morbid Obesity Undergoing Gastric Bypas.

Závorka L, et al. Climate change induced deprivation of dietary essential fatty acids can reduce growth and mitochondrial efficiency of wild juvenile salmon.

Kibria S, et al.  Effect of omega-3 fatty acid supplementation in salmon oil on the production performance of lactating sows and their offspring.

Langlois K; Ratnayake WMN. Omega-3 Index of Canadian adults.

Meyer BJ. Australians are not Meeting the Recommended Intakes for Omega-3 Long Chain Polyunsaturated Fatty Acids: Results of an Analysis from the 2011–2012 National Nutrition and Physical Activity Survey.

Stefanello FPS, et al. Analysis of consumption of omega 3 source foods by participants of social groups.

Murphy RA, et al. Long-chain omega-3 fatty acid serum concentrations across life stages in the USA: an analysis of NHANES 2011–2012.

Stark KD, et al. Global survey of the omega-3 fatty acids, docosahexaenoic acid and eicosapentaenoic acid in the blood stream of healthy adults.

Ponnampalam EN, et al. The Sources, Synthesis and Biological Actions of Omega-3 and Omega-6 Fatty Acids in Red Meat: An Overview.

Virtanen JK, et al. Serum long-chain n-3 polyunsaturated fatty acids, mercury, and risk of sudden cardiac death in men: a prospective population-based study.

Mohan D, et al. Associations of Fish Consumption With Risk of Cardiovascular Disease and Mortality Among Individuals With or Without Vascular Disease From 58 Countries.

Yetley EA, et al. Options for basing Dietary Reference Intakes (DRIs) on chronic disease endpoints: report from a joint US-/Canadian-sponsored working group.

Racey M, et al. Dietary Reference Intakes based on chronic disease endpoints: outcomes from a case study workshop for omega 3's EPA and DHA.

Harris WS, et al. Blood n-3 fatty acid levels and total and cause-specific mortality from 17 prospective studies.


Essentia Pharma

  18 DE MAIO DE 2021 | EDIÇÃO 8

Olá!

A partir de um pequeno estudo, recém-publicado em Sports, sobre níveis de ômega-3 em jovens masculinos que não se exercitavam, essa edição da Essentia Atual amplia a visão para as relações entre ômega-3 e saúde muscular em diferentes públicos.

São abordados tanto pacientes masculinos quanto femininos, de jovens a adultos mais velhos, segundo diferentes situações: pacientes hospitalizados, pacientes que não gostam de se exercitar (sedentários ou semi-sedentários), pacientes que têm um membro imobilizado por um certo período (desuso), pacientes que sofrem de sarcopenia e, por fim, atletas.

  Acompanhe.


Ômega-3 e saúde muscular

Declínios na massa e função muscular associados à idade são os principais fatores de risco para quedas, mortalidade em idosos, redução da capacidade de realizar atividades diárias e tempo de recuperação prolongado após hospitalizações. Quanto mais estratégias seguras e capazes de ajudar na manutenção da saúde muscular, melhor a qualidade de vida.

Durante a meia-idade, a massa muscular começa a diminuir a uma taxa de ~0,5–1,0% ao ano pelo aumento da infiltração com tecido adiposo e conjuntivo, que afeta negativamente a força e potência musculares, totalizando uma perda anual de ~ 2–3,0% da função muscular.

Muito recomendado e prescrito para a saúde cardiovascular e neurológica, os efeitos do ômega-3 são estudados para muitas áreas por suas ações em diferentes marcadores. Nos últimos anos, vimos um aumento contínuo de estudos apontando que a sua ingestão diária ajuda a preservar e promover a musculatura. O ômega-3 parece complementar ou dar apoio a alguns dos efeitos do exercício físico em várias populações.

Recém-publicado em Sports, um pequeno estudo randomizado concluiu que níveis mais elevados de ácidos graxos ômega-3 plasmáticos estão positivamente relacionados com a função muscular e articular após exercício de contração excêntrica em jovens do sexo masculino. O estudo também encontrou que níveis mais elevados de EPA e DHA são importantes para reduzir o dano muscular.

Nesse contexto, as conclusões desse estudo ajudam a solidificar os achados anteriores, ampliando a população beneficiada. Além de em adultos mais velhos, o efeito também pode ser visto em populações jovens, não atletas. No estudo atual, os trinta e dois participantes não faziam treinamento físico contínuo há um ano.

Atenuante do desuso muscular

Em 2019, um pequeno estudo já havia chamado a atenção por seu design meticuloso, com várias medidas repetidas, de base, durante e após intervenção, inclusive repetidas biópsias musculares, totalizando 12 visitas laboratoriais em um período de 10 semanas. As vinte participantes eram mulheres jovens (IMC = 23,0 ∓ 2,3 kg / m2; idade = 22 ∓ 3 anos) que se exercitavam até 2 vezes por semana.

Muito importantes para a prática clínica, McGlory et al. tiveram como ponto central testar o ômega-3 (n-3) sobre a síntese de proteína muscular miofibrilar (MyoPS), massa muscular, tamanho e força em resposta a um período de desuso muscular.

Os pesquisadores usaram uma dose de n-3 já anteriormente observada através do volume muscular medido por ressonância magnética para conferir influência anabólica no esqueleto: 5 g (2.97 g EPA + 2.03 g DHA). Durante o estudo, a dieta foi controlada, e as participantes tiveram um membro inferior (unilateral) imobilizado por 2 semanas.

Em comparação com os valores pré-intervenção, a redução do volume do quadríceps no grupo controle foi significativamente maior em comparação com o grupo n-3 (P < 0,01; 14% vs. 8%). Da mesma forma, em resposta à imobilização, houve uma redução significativa da área de secção transversa do quadríceps em ambos os grupos (P < 0,01) com o declínio absoluto sendo significativamente maior no grupo controle em comparação com n-3 (P < 0,01; 14% vs. 8%). Na recuperação, apenas o grupo n-3 teve seu quadríceps reabilitado como antes da intervenção.

A massa magra no grupo controle sofreu drástica redução (~6%), no entanto, nenhuma mudança significativa foi encontrada no grupo n-3. As taxas integradas de MyoPS foram significativamente maiores no grupo n-3 versus controle em todos os momentos (P < 0,01). Entre outros achados, em resposta à imobilização, houve aumento da expressão dos genes ATF4 e p53 em ambos os grupos; no entanto, a expressão do gene ATF4 foi significativamente maior no grupo n-3 em comparação com o grupo de controle.

Potencializador na terapêutica antissarcopenia

Um nutriente que pode ajudar na performance física parece possuir naturalmente um papel redutor da perda muscular devido ao desuso. Assim, paralelamente à conhecida abordagem para a manutenção ou ganho de massa magra, como o duo proteína + exercício físico, evidências crescentes apontam para o potencial terapêutico do n-3 sobre a inflamação crônica de baixo grau associada ao envelhecimento, observada na população com sarcopenia.

Além do efeito anti-inflamatório, estudos sugerem que o n-3 também pode ajudar através da ativação da via mTOR (p21 é um alvo a jusante de ATF4) e redução da resistência à insulina.

O conjunto de estudos observacionais e clínicos até o momento geraram resultados mistos, mas positivos. A inclusão de n-3 na combinação exercício + proteína precisa de mais pesquisas, mas pode ser um potencializador promissor. Muito importante, nesses mesmos indivíduos, esses ácidos graxos já podem conferir benefícios neuroprotetores e cardiovasculares.

Eventuais mecanismos envolvidos

Muitos dos efeitos dos ácidos graxos n-3 são semelhantes aos efeitos do exercício. Por exemplo, ambos aumentam a taxa metabólica basal, sensibilidade à insulina, produção de óxido nítrico, deformabilidade eritrocitária, variabilidade da frequência cardíaca e densidade óssea e diminuem o risco de síndrome metabólica, fraturas ósseas, agregação plaquetária e depressão.

Uma vez nas membranas celulares, o ômega-3 ajuda no desempenho físico através do fluxo sanguíneo por meio da sua ação na vasculatura. Estudos em humanos indicam que o n-3 pode ajudar a reduzir a pressão arterial, particularmente em indivíduos hipertensos, e há dados suficientes para sugerir que ele faz isso, em parte, por ter um efeito benéfico sobre a disfunção endotelial e nas respostas dependentes de NO – beneficios igualmente observados através da prática da atividade física.

Muito desse importante efeito melhorador do fluxo sanguíneo se dá por meio das suas propriedades anti-inflamatórias. Tanto o ômega-3 quanto o ômega-6 produzem os hormônios eicosanoides, que podem ter propriedades inflamatórias e anti-inflamatórias. A atividade inflamatória é aumentada ao passo que os níveis de ômega-6 ficam muito acima do ômega-3, como é comum na dieta da maioria das pessoas. Isso ocorre porque ambos competem pelo uso da mesma enzima delta-6 dessaturase.

Resumidamente, os hormônios produzidos pelo excesso de ômega-6, tromboxano e prostaglandina, podem levar à vasoconstrição das artérias. Quando em níveis ótimos, o n-3 consegue melhor interagir com a enzima ciclo-oxigenase, que produz tromboxano e prostaglandina a partir do excesso de ômega-6, para reduzir os níveis desses hormônios. Isso, por sua vez, reduz a agregação plaquetária (viscosidade do sangue), modula a vasodilatação, melhorando a circulação.

As percepções mecanicistas de estudos em humanos e animais indicam que, apesar do papel do endotélio e do NO na vasodilatação mediada pelo n-3, há claramente outros mecanismos envolvidos, como a sua interação com os canais iônicos das células do músculo liso. Um aumento em n-3 nas membranas fosfolipídicas reduz as emissões de ROS, altera a ordem da membrana, afeta a expressão gene/proteína e aumenta a produção relativa de citocinas anti-inflamatórias, todos conhecidos para influenciar o fenótipo.

Está claro que o desempenho físico, a capacidade de resistência e a resistência à fadiga em humanos dependem de muitos fatores diferentes. A capacidade de transporte de oxigênio no sangue parece ser de particular importância e, conforme estudos, este fator também pode ser apoiado pelo n-3, visto que ele melhora a deformabilidade eritrocitária.

Durante a influência do exercício físico, o sistema eritrocitário sofre um enrijecimento, atribuído à consequente produção extra de radicais livres, que danifica as membranas das hemácias. Assim, a redução da oxidação lipídica e o aumento do fornecimento de oxigênio e nutrientes para os músculos a partir da melhora da deformabilidade eritrocitária pelo n-3 podem ajudar no desempenho muscular.

Ômega-3 para desempenho esportivo

Paralelo à evolução da pesquisa sobre as evidências que ligam EPA/DHA com a saúde muscular para populações não atléticas, a sua suplementação tem recebido cada vez mais atenção na nutrição esportiva de competição.

Estudos indicam o n-3 para o desempenho de atletas pela melhora da capacidade de resistência e início tardio da dor muscular, bem como nos marcadores relacionados à recuperação aprimorada e modulação imunológica. O estado de treinamento (metabólico) parece influenciar a resposta à suplementação, mas em termos gerais, resultados favoráveis aparecem de forma mais consistente após aproximadamente 6–8 semanas.

Se considerarmos somente o objetivo básico da nutrição para atletas de compensar o aumento de energia e nutrientes necessários, um estudo publicado no Journal of Athletic Training levanta uma bandeira de alerta sobre os níveis de ácidos graxos n-3.

O estudo descritivo transversal teve como objetivo medir o total de DHA e EPA nas membranas eritrocitárias, através do Omega-3 Index, em atletas de futebol americano da National Collegiate Athletic Association Division I (temporada 2017-2018). Ao fazê-lo, verificaram as zonas de risco estabelecidas para doenças cardiovasculares: alto risco, < 4%; risco intermediário, 4% a 8%; e baixo risco, > 8%.

O índice médio entre todos os atletas foi 4,4% ± 0,8%.

Em outras palavras, EPA + DHA foram responsáveis por menos de 5% de todos os ácidos graxos presentes. De um total de 404 jogadores, 34% (n = 138) obtiveram o índice de < 4%, ou alto risco, enquanto 66% (n = 266) foram estratificados na categoria de risco intermediário. Nenhum participante atingiu a porcentagem de baixo risco.


Fontes:

Ochi, E et al. Plasma Eicosapentaenoic Acid Is Associated with Muscle Strength and Muscle Damage after Strenuous Exercise.

Smith, G et al. Fish oil–derived n–3 PUFA therapy increases muscle mass and function in healthy older adults.

Bercea, C et al. Omega‐3 polyunsaturated fatty acids and hypertension: a review of vasodilatory mechanisms of docosahexaenoic acid and eicosapentaenoic acid.

Robinson, J; Stone, N. Antiatherosclerotic and antithrombotic effects of omega-3 fatty acids.

Szygula, Z. Erythrocytic system under the influence of physical exercise and training.

Lewis, E et al. 21 days of mammalian omega-3 fatty acid supplementation improves aspects of neuromuscular function and performance in male athletes compared to olive oil placebo.

Anzalone, A et al. The Omega-3 Index in National Collegiate Athletic Association Division I Collegiate Football Athletes.

Dupont, J et al. The role of omega-3 in the prevention and treatment of sarcopenia.

McGlory, C et al. Omega-3 fatty acid supplementation attenuates skeletal muscle disuse atrophy during two weeks of unilateral leg immobilization in healthy young women.


Essentia Pharma

23 DE ABRIL DE 2021 | EDIÇÃO 7

Olá!

Um dos desafios na neonatologia é a prevenção e o controle das infecções bacterianas neonatais. Geralmente, a suspeita de infecção é um dos motivos mais comuns de admissão em uma unidade neonatal onde os neonatos (além de bebês de alto risco) recebem terapia antimicrobiana empírica. Consequentemente, um número considerável de neonatos é tratado com antibióticos durante os primeiros dias de vida.

É sabido que recém-nascidos submetidos à terapia antibiótica exibem composição alterada do microbioma intestinal. Quando na infância, estudos clínicos apontam que números particularmente reduzidos de Bifidobactérias estão associados ao desenvolvimento posterior de sobrepeso e obesidade.

Um estudo epidemiológico publicado em Nature Communications trabalhou a hipótese de que o tratamento com antibióticos durante os primeiros dias de vida pode exercer um efeito duradouro no crescimento. No trabalho, a associação foi investigada até a idade de seis anos. Acompanhe.

Boa leitura!


Antibióticos e seus efeitos no microbioma intestinal e no crescimento infantil

Em uma grande coorte de nascimentos não selecionada do sudoeste da Finlândia (n = 12.422 crianças nascidas a termo durante os anos de 2008-2010), observou-se uma redução significativa no peso, altura e escores-Z de IMC ao longo dos primeiros seis anos de vida em meninos, mas não em meninas, tratados com antibióticos durante os primeiros dias de vida.

Essa observação foi replicada em uma coorte independente, na qual a exposição neonatal a antibióticos foi associada a escores-Z de peso e altura reduzidos nos primeiros cinco anos de vida em meninos, mas não em meninas.

É importante notar que as análises de ambas as coortes foram ajustadas para potenciais fatores de confusão, incluindo idade gestacional, IMC pré-gestacional materno, tipo de parto, uso de antibióticos durante o parto e escores-Z de peso ao nascer. Além disso, o desenho do estudo da coorte SFBC permitiu diferenciar entre as contribuições da exposição neonatal a antibióticos e infecção concomitante, que é um fator de confusão considerável em estudos epidemiológicos que tentam elucidar os efeitos de longo prazo da exposição a antibióticos.

Ainda, o crescimento significativamente reduzido foi evidente em meninos que receberam antibióticos empíricos por suspeita de infecção, mas nos quais a infecção foi descartada. O comprometimento do crescimento pareceu ser um pouco mais pronunciado em neonatos que receberam um curso completo de antibióticos em comparação com aqueles que receberam um tratamento mais curto.

A ligação causal potencial que encontraram pode ser mediada por perturbações induzidas por antibióticos no desenvolvimento do microbioma intestinal. Entre outros, micróbios intestinais supostamente desempenham papéis essenciais na digestão de compostos dietéticos e modulam a energia intestinal, bem como o metabolismo energético e a saciedade do hospedeiro.

Os resultados do estudo são consistentes com relatórios anteriores, que indicaram uma abundância reduzida de Bifidobactérias até a idade de 90 dias em bebês expostos a antibióticos neonatais. Ao efetuarem acompanhamento de amostra fecal até os 24 meses de idade, ainda foi observada uma redução significativa das Bifidobactérias. Finalmente, os pesquisadores demonstraram que o transplante de microbiota fecal de crianças expostas a antibióticos para camundongos machos livres de germes resultou em prejuízo significativo do crescimento.

Ao considerar os dados de outros estudos publicados anteriormente, que sugerem que o microbioma intestinal individual específico e os perfis metabolômicos correspondentes se consolidam durante os primeiros dois anos de vida, os achados apontam para uma relevância clínica: a exposição neonatal a antibióticos tem um impacto mais profundo e duradouro na colonização intestinal do que se pensava anteriormente.

Como reflexão, lembramos aqui que houve um tempo em que a oxigenoterapia precoce e prolongada era administrada a quase todos os bebês prematuros, independentemente da avaliação de risco individual para morbidade respiratória, até que os dados revelaram uma relação causal entre a superexposição e danos graves. Visto que esse conhecimento foi adquirido, a prática foi alterada para limitar o tratamento apenas aos bebês que realmente precisassem dele.


Fonte:

Uzan-Yulzari, et al. Neonatal antibiotic exposure impairs child growth during the first six years of life by perturbing intestinal microbial colonization. Nature Communications.

Essentia Pharma

2 DE MARÇO DE 2021 | EDIÇÃO 6

Olá!

Pesquisadores vêm investigando maneiras de ativar o potencial regenerativo do corpo para desacelerar o relógio biológico. As terapias senolíticas são aquelas que destroem seletivamente as células senescentes que se acumulam nos tecidos com o avanço da idade ou sob desequilíbrios crônicos.

Dentre essas estratégias, substâncias naturais e sintéticastêm sido testados com certo sucesso para reduzir o volume dessas células senescentes em animais e humanos. Além disso, uma revisão sistemática e meta-análise,recém-publicada em Aging Cell, encontrou evidências de que o exercício também tem propriedades senolíticas.

Boa leitura!


Estratégias senolíticas para a regeneração da saúde

A senescência celular é caracterizada principalmente como uma interrupção da proliferação celular estável e a indução de SASP (fenótipo secretor associado à senescência). Além disso, células senescentes também apresentam resistência à apoptose/depuração imune, acompanhada de remodelação morfológica característica e alternâncias metabólicas.

Dependendo do contexto biológico, a senescência celular pode ser prejudicial ou benéfica. Mas o seu excesso, juntamente com os efeitos nocivos dos produtos químicos que elas liberam, podem se espalhar rapidamente, influenciando a saúde geral.

Diversas substânciaspara reduzir especificamente células senescentes a fim de extinguir sua força destrutiva vêm sendo recentemente reveladas e testadas em animais e humanos. O termo coletivo para essas moléculas é “senolítico”.

Já em fase de ensaios clínicos, o duo dasatinibe + quercetina vem mostrando poder baixar a carga celular senescente. Dasatinibe tem como alvo as tirosinas quinases, enquanto o flavonoide quercetina tem como alvo os membros da família BCL-2, bem como HIF-1α e nódulos específicos nas vias da PI3-quinase.

Como diferentes tipos de células senescentes utilizam diferentes vias antiapoptóticas de células senescentes (SCAPs) para se defenderem contra seu próprio microambiente pró-apoptótico, prevê-se que múltiplos compostos que visam múltiplos SCAPs serão mais eficazes na remoção de células senescentes do que drogas que têm um único alvo molecular.

Além da quercetina e dasatinibe, outras moléculas, como os flavonoides apigenina e kaempferol e a metformina, mostraram efeitos senolíticos em animais.

Além de substânciascom potencial senolítico, já em 2016, o exercício mostrou potencial para evitar o acúmulo de células senescentes causado por uma dieta rica em gordura em camundongos. Agora, recém-publicada em Aging Cell, uma revisão sistemática e meta-análise encontrou evidências de que oexercício tem propriedades senolíticas em indivíduos saudáveis.

Um maior nível de atividade física habitual – mas sem exageros – reduziu o nível de p16INK4a em vários tecidos/células, especialmente os linfócitos senescentes. Os autores também observaram redução dos marcadores de células senescentes em animais obesos, mas não saudáveis. A discrepância entre os estudos em humanos e animais pode ser devido à fase investigacional inicial e às variações nos marcadores de células senescentes, tipos de células/tecidos e condições de saúde, o que pode sugerir também que o exercício tenha propriedades senolíticas sob certas condições.

Considerando-se que as secreções das células ou seus debris indutores de SASPs podem tornar as células próximas senescentes, o envelhecimento biológico se mostra contagioso dentro do organismo. Estratégias seguras, que reduzam o excesso desses fatores inflamatórios ou senescentes, possuem o potencial de melhorar a saúde geral, incluindo o comprometimento cognitivo associado à idade.

Fontes:

Hickson, L et al. Senolytics decrease senescent cells in humans: Preliminary report from a clinical trial of Dasatinib plus Quercetin in individuals with diabetic kidney disease .

Zhu, Y et al.The Achilles’ heel of senescent cells: from transcriptome to senolytic drugs.

Lim, H et al.Effects of flavonoids on senescence-associated secretory phenotype formation from bleomycin-induced senescence in BJ fibroblasts.

Schafer, M et al.Exercise Prevents Diet-Induced Cellular Senescence in Adipose Tissue.

Chen, X et al.Is exercise a senolytic medicine? A systematic review.


Essentia Pharma

Olá!

Pesquisas recentes apontam que a reversão de microbiota intestinal de idosos pode gerar melhoras significativas na saúde geral. Essa descoberta ganha mais valor ao se constatar que a causa mais comum de mortes entre os centenários está intimamente relacionada com o sistema imune e desequilíbrios microbiais.

Confira na Essentia Atual de dezembro um panorama dessas e outras descobertas que dão destaque ao papel da microbiota intestinal na longevidade saudável.

Boa leitura!


O papel da microbiota intestinal na longevidade saudável

No contexto da longevidade, a maioria das pesquisas atuais sobre a vida microbiana no corpo humano está concentrada no microbioma intestinal. Em todos os casos são observadas mudanças com o avanço da idade que permitem que espécies de micróbios com características patogênicas/oportunistas prosperem perante a fragilidade do sistema imune do hospedeiro, contribuindo para a inflamação crônica.

Nos intestinos, o transplante de microbiota fecal de indivíduos jovens para idosos mostrou poder de reverter mudanças prejudiciais à saúde e, em animais, melhorar a expectativa de vida. Isso ainda precisa ser melhor consolidado, mas a investigação neste sentido vem, de maneira crescente, testando hipóteses, unindo os achados em isolado e fornecendo novos insights sobre a importância da microbiota intestinal para a longevidade saudável.

Em intestinos saudáveis, as comunidades microbianas conseguem manter um metabolismo homeostático ao interagir diretamente com antígenos estranhos, residindo no hospedeiro em um estado de tolerância imunológica.

De acordo com Jones et al., até por volta de 1900 as doenças infecciosas pneumonia/influenza, tuberculose, infecções gastrointestinais e difteria eram as principais causas de todas as mortes. Como resultado, a expectativa de vida era muito curta.

Ao longo de grande parte do século XX, o foco em infraestrutura para a distribuição de água, coleta de esgoto, segurança alimentar, práticas higiênicas e a introdução de antibióticos e vacinas permitiram uma redução dramática de infecções e mortes relacionadas. A expectativa de vida teve o maior aumento na história da humanidade.

No entanto, ao estudar a longevidade atual dos centenários, a causa mais comum de mortes nesta população volta a estar intimamente relacionada com o sistema imune e desequilíbrios microbiais, como visto na pneumonia. Estudos evidenciaram o impacto da composição da microbiota na imunossenescência e fragilidade em populações idosas (103 anos). Ademais, mudanças nas comunidades intestinais têm sido implicadas direta e indiretamente no envelhecimento precoce e patogênese de doenças crônicas relacionadas à idade, incluindo obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, cânceres e doenças neurodegenerativas.

O avanço para a expansão da longevidade parece voltar a exigir uma melhor consideração a respeito dos trilhões de bactérias, arqueias, vírus, protozoários e fungos.

Como o envelhecimento per se afeta a microbiota intestinal, os efeitos das mudanças relacionadas à idade no estado de saúde do hospedeiro e as possíveis abordagens terapêuticas para prevenir ou neutralizar os aspectos negativos da disbiose receberam nos últimos anos um importante interesse de pesquisa para responder a muitas questões. Por exemplo:

• Existem assinaturas de espécies específicas para a longevidade?
• Os efeitos de curto prazo, como a exposição a antibióticos, são tão importantes quanto os de médio e longo prazos, como preferências alimentares?
• Como melhor atuar em relação à microbiota intestinal quando o uso de antibióticos ou internação são necessários?

Já como resultados práticos da pesquisa, a literatura relevante indica que a dieta é o fator-chave para a modulação da composição geral da microbiota intestinal.

Muitos estudos observaram que dietas ricas em alimentos não refinados/ultra- industrializados e ótima proporção dos ácidos graxos poli-insaturados ômegas 6 e 3 (3:1) ajudam a manutenção de uma diversidade positiva bacterial como uma maior abundância de Prevotella e redução de Bacteroides, o que aumenta degradadores de fibras e produtores de ácidos graxos de cadeia curta. Lembrando que dietas altamente refinadas geralmente geram proporções de n-6 e n-3 a partir da ordem de 10:1, associadas à inflamação crônica.

Talvez grande parte da explicação da individualidade dietética esteja na composição intestinal como mostram vários estudos. Um recém-executado em camundongos vinculou o metabolismo dos constituintes do café aos biomarcadores da saúde através da grande contribuição que a microbiota do cólon conduz para a variação intra e interindividuais no metabolismo de pequenas moléculas bioativas.

Também são fatores relevantes: genética, ambiente geográfico, exercícios, doença/medicação concomitante.

Outra lição que vimos aprendendo com as microbiotas é que o estudo da odontologia precisa conversar com a medicina – a união das partes. Uma saúde bucal deficiente, por exemplo, pode influenciar negativamente o estado nutricional por vários ângulos, além de associada às áreas cardiovascular e oncológica. Dentes perdidos/incômodos podem levar a deficiências de mastigação e deglutição. A prevalência de transição bacteriana oral para outras áreas pode ser maior em pessoas mais velhas do que em adultos mais jovens. Nas mais velhas, foi visto que esta transição para o intestino foi influenciada pela exposição de longo prazo aos inibidores da bomba de prótons.

O envelhecimento também é muitas vezes associado à constipação crônica, possivelmente devido a ingestões subótimas de fibras alimentares e água, e exposição prolongada a medicamento. A própria fragilidade, muito presente no envelhecimento, é relacionada à composição da microbiota e seus metabolitos como visto nas doenças cardiovasculares e crônica renal.

De maneira resumida, isso explica porque intervenções que consideram a microbiota estão no foco para a conquista de uma longevidade saudável. Enquanto aguarda-se o progresso científico neste sentido, torna-se evidente que qualquer exposição a medicamentos, e especialmente tratamentos com antibióticos, exige um raciocínio de protocolo paralelo ou seguido por uma terapia restaurativa, para prevenir a ocorrência de infecções perigosas como C. difficile e a proliferação de outras cepas oportunistas.

Fontes:

Jones, D., et al. The Burden of Disease and the Changing Task of Medicine.

Coman, V., Vodnar, D.C.. Gut microbiota and old age: Modulating factors and interventions for healthy longevity.

Zhang, L., et al. Characterization of the gut microbiota in frail elderly patients.

Margiotta, E., et al. Gut microbiota composition and frailty in elderly patients with Chronic Kidney Disease.

He, W., et al. Trimethylamine N-Oxide, a Gut Microbiota-Dependent Metabolite, is Associated with Frailty in Older Adults with Cardiovascular Disease.

Kerimi, A., et al. The gut microbiome drives inter- and intra-individual differences in metabolism of bioactive small molecules.


Essentia Pharma

Olá!

Em uma nova abordagem, marcadores ligados à saúde do sistema muscular, como sarcopenia e inflamação crônica, vêm sendo relacionados a doenças típicas da terceira idade. Nesta edição da Essentia Atual, trazemos um resumo comentado sobre o andamento destas descobertas e de como elas podem auxiliar na conscientização dos pacientes.

Boa leitura!


Saúde do sistema muscular como indicador de longevidade

Foi-se o tempo em que a ciência médica considerava a força e massa musculares como características atléticas. Atualmente, compreende-se mais profundamente que o sistema muscular atua como alicerce para uma vida longeva saudável por múltiplas vias e, portanto, meios preventivos e negativamente associados à sarcopenia são um dos focos-chave da medicina regenerativa.

Recém-publicada em Ageing Research Reviews, uma importante meta-análise chegou a resultados que indicam que níveis mais elevados de marcadores inflamatórios sistêmicos estão associados a uma menor força e massa musculares ao longo do tempo.

“No geral, 168 artigos; 149 artigos transversais (n = 76.899 participantes; 47% homens) e 19 artigos longitudinais (n = 12.295 participantes; 31,9% homens) preencheram os critérios de inclusão. Independentemente do estado de doença, níveis mais elevados de proteína C reativa (PCR), interleucina (IL)-6 e fator de necrose tumoral (TNF) α foram associados a menor força de preensão manual e extensão de joelho (PCR; r = −0,10, p < 0,001, IL-6; r = −0,13, p < 0,001, TNFα; r = −0,08, p < 0,001 e PCR; r = −0,18, p < 0,001, IL-6; r = −0,11, p < 0,001, TNFα; r = −0,13, p < 0,001, respectivamente) e massa muscular (PCR; r = −0,12, p < 0,001, IL-6; r = −0,09, p < 0,001, TNFα; r = −0,15, p < 0,001).”

Como reflexão, a inflamação crônica se mostra como uma sinalizadora de um sistema imunológico inadequadamente hiperativo que compromete a manutenção dos tecidos – incluindo musculares e neuromusculares –, produzindo alterações sinalizadoras negativas que mudam o comportamento de outras células, como as células-tronco.

Sem entrar no mérito da causa-raiz dessa inflamação silenciosa, o comprometimento dos tecidos musculares já significa uma redução de moléculas anti-inflamatórias, como as miocinas, e de proteínas (50% das proteínas totais do corpo e o maior reservatório de aminoácidos estão localizados nos músculos).

Apesar das tentativas dos indivíduos de evitar o impacto do avançar da idade, todos os estudos de base populacional mostram uma perda implacável de massa muscular e força com o envelhecimento.

As abordagens da biologia de sistemas continuam a revelar conexões interessantes e clinicamente impactantes que aumentam nossa compreensão da progressão de doenças. Além do envelhecimento aparente, aumento de quedas e perda da locomoção, a sarcopenia está também associada a várias doenças cuja característica comum subjacente é a inflamação crônica de baixo grau, como demência, doença pulmonar obstrutiva crônica, doenças cardiovasculares e metabólicas.

Num estado de obesidade, por exemplo, a desproporção negativa da massa magra em relação à massa gorda (inflamatória) afeta vias metabólicas fundamentais (como a sinalização da insulina, a homeostase da glicose, ATP mitocondrial e o metabolismo lipídico), lembrando que o sistema muscular, além de um “órgão” metabólico, pode ser visto como um órgão endócrino.

O estudo em resumo aqui está longe de ser o único a mostrar uma ligação entre inflamação crônica e sarcopenia, mas ajuda na conscientização da prática clínica para a consideração da inter-relação de fatores antes inconsiderados. De maneira indireta, ele nos remete à reflexão sobre a possível íntima conexão entre manutenção da saúde muscular e longevidade.

A medição da musculatura esquelética parece, portanto, representar uma estratégia eficiente na predição da longevidade saudável em adultos mais velhos. Ademais, tomando como exemplo outros marcadores hoje já conhecidos de pacientes adultos, como os colesteróis e a vitamina D, ao fazer a medição e acompanhamento em sua prática clínica, o profissional transmite ao paciente a mensagem sobre a importância de seu maior órgão, os músculos, de maneira subliminarmente ativa.

Fonte:

Tuttle C, et al. Markers of inflammation and their association with muscle strength and mass: A systematic review and meta-analysis


Essential Nutrition

Olá!

Há tempo sabemos que a privação do sono está associada à mortalidade através de doenças coronárias, hipertensão, diabetes e obesidade.Trabalhos publicados recentemente sugerem que parte da resposta pode estar em um local inesperado do corpo, e um recém-publicado estudo foi mais fundo, descobrindo mais uma potencial funcionalidade dos compostos antioxidantes.

Boa leitura!


Estudo liga privação de sono a estresse oxidativono intestino

Há algum tempo temos o entendimento de que o sono é essencial para a qualidade de vida e que a perda severa do sono pode ser letal – talvez mais do que a inanição. No entanto, a causa dessa associação é ainda desconhecida. Recém-publicado em Cell, um estudo executado em animais traz uma surpreendente descoberta enquanto amplia esta área da pesquisa para além do campo neurológico e traz um potencial aprendizado sobre uma nova função do sono e dos antioxidantes.

Usando moscas e camundongos, os pesquisadores descobriram que a privação do sono leva ao acúmulo de espécies reativas de oxigênio (EROs) e ao consequente aumento do estresse oxidativo, não no cérebro, mas, especificamente, no intestino. O excesso de EROs no local não só se correlacionou com a privação do sono, mas também mostrou atuar como o causador da letalidade nos animais.

Ao neutralizar os EROs, os pesquisadores observaram uma normalização do estresse oxidativo, o que permitiu que as moscas voltassem a ter uma vida útil normal. A reversão total da situação foi possível através da suplementação oral de compostos antioxidantes ou da elevação de enzimas antioxidantes no intestino.

Algumas questões consequentes precisarão ser investigadas. Entre elas, como a privação do sono leva ao acúmulo de EROs e por que isso ocorre no intestino. Pode ser que a depuração de EROs seja uma função diária do sono, mas também é possível que a privação de sono gere condições adversas únicas que levem à acumulação dessas espécies. Os níveis de EROs podem resultar do aumento da sua produção, diminuição da sua eliminação ou ambos. A vigília prolongada pode afetar diretamente o intestino, mas o acúmulo de EROs também pode ser uma consequência da sinalização do sistema nervoso ou de outros tecidos.

Por agora, os pesquisadores sugerem que a morte por restrição severa do sono pode ser causada pelo excesso de estresse oxidativo e que o intestino é central nesse processo. Outro importante achado é que a sobrevivência sem sono ou com menos horas de sono – digamos, períodos na vida em que não se obtém a quantidade de horas de sono desejada – pode ser possível (não tão danosa) quando a acumulação de EROs é impedida, no caso aqui, demonstrado através do uso de antioxidantes.

Fonte:

Vaccaro A, et al. Sleep Loss Can Cause Death through Accumulation of Reactive Oxygen Species in the Gut


Estudo in vitro: vitamina C na redução de EROs

Ao longo dos anos, várias análises publicadas vêm explicando (em separado) a geração e a química do ácido sulfênico, bem como seus papéis biológicos. A formação do ácido sulfênico de proteína há muito tempo é considerada um dano indesejado causado por espécies reativas de oxigênio (EROs). Dentre outros, essas espécies são formadas quando a redução de oxigênio é incompleta e/ou a partir de estresse ambiental, como toxinas, metais pesados, radiações ionizantes e UV, choque térmico, infecção e inflamação.

Quando em equilíbrio, as EROs agem como mensageiras em várias vias de sinalização intracelular. Por outro lado, quando formadas em excesso, elas podem se ligar a moléculas vitais e perturbar seu funcionamento. Para isso, a célula desenvolveu vários mecanismos de defesa e homeostase redox para controlar rigidamente o nível de oxidação de tióis (estruturas existentes nas proteínas) e sobreviver em um mundo oxidante – mas talvez não suficiente para uma longeva qualidade de vida.

Curiosamente, um estudo brasileiro recém-publicado em Free Radical Biology and Medicine mostra de forma quantitativa uma valorosa contribuição da vitamina C para reverter a oxidação de grupos tiol da proteína cisteína (Cys), sujeita à oxidação pelas EROs em ácido sulfênico. No estudo in vitro, realizado com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), a redução deste ácido foi observada em células situadas em compartimentos com altos níveis de ascorbato, assim podendo regenerar os tióis.

Com este resultado, investiga-se o uso de vitamina C para a redução de fungos (mofo) e doenças bacterianas em plantas, em que a concentração da vitamina é alta e importante para o desenvolvimento e processo de germinação das sementes. Com paralelo raciocínio, conforme resultados de pesquisas anteriores in vitro e in vivo, o resultado também coopera com a hipótese de que a homeostase redox intracelular não seja somente governada pela razão glutationa reduzida/glutationa oxidada (GSH/GSSG), mas também pelos níveis de ascorbato.

Fontes:

Anschal V, at all.Reduction of sulfenic acids by ascorbate in proteins, connecting thiol-dependent to alternative redox pathways.

Monteiro G, at all.Reduction of 1-Cys peroxiredoxins by ascorbate changes the thiol-specific antioxidant paradigm, revealing another function of vitamin C.

Essential Nutrition

Olá!

O adoçante xilitol, já reconhecido por seus benefícios para a saúde bucal, foi apontado por estudo publicado em Applied Microbiology and Biotechnology como possível fator de estímulo do sistema imunológico e digestivo. Também nesta edição da Essentia Atual, veja um estudo que mostrou a relação entre o ganho de peso e a redução do fluxo sanguíneo e da atividade em todas as regiões do cérebro.

Boa leitura!


Benefícios do xilitol além da saúde oral

Uma minirrevisão da literatura, publicada emApplied Microbiology and Biotechnology, concluiu que os benefícios do xilitol para a saúde não se limitam à higiene oral. Reconhecido como um adoçante seguro e de baixa caloria, o xilitol é famoso internacionalmente pelos seus efeitos antiplaca, antigengivite, anticárie e remineralizador do esmalte dos dentes. O novo estudo mostra que outros potenciais efeitos do xilitol ocorrem sobre sistemas do organismo que estimulam direta e indiretamente o sistema imune:

• Auxiliando no controle glicêmico e do peso;
• Reduzindo infecções de ouvido e respiratórias;
• Estimulando a digestão, os lipídios e o metabolismo ósseo.

Esses resultados levaram os pesquisadores a afirmar que o xilitol pode tratar doenças cujos antibióticos e cirurgias não conseguem êxito.

No quesito segurança, como um poliol bem tolerado, suas doses seguras mais altas variam normalmente de 20g a 70g por dia, o que apresenta boa margem de uso. Por exemplo, a quantidade recomendada para inibição da cárie é de cerca de 10 g/dia para adultos (as crianças devem ingerir quantidades menores). Em 1985, o Comitê Científico de Alimentos da União Europeia publicou um relatório no qual afirmava que consumir 50g de solução de xilitol pode causar diarreia. Como ilustração de quantidade, os sachês individuais de xilitol encontrados no mercado geralmente contêm 5g.

Fonte:

Benahmed A, at all.Health benefits of xylitol.


O efeito do excesso de peso no funcionamento cerebral

Conforme o peso de uma pessoa aumenta, todas as regiões do cérebro diminuem em atividade e fluxo sanguíneo. A conclusão é de um novo estudo de imagem cerebral publicado noJournal of Alzheimer's Disease. No trabalho que liga o excesso de peso à disfunção cerebral, os cientistas analisaram mais de 35.000 exames de neuroimagem funcional usando tomografia computadorizada de emissão de fóton único (SPECT cerebral) em mais de 17.000 indivíduos (18-94 anos) para medir o fluxo sanguíneo e a atividade cerebral.

O baixo fluxo sanguíneo cerebral é o principal indicador de imagem cerebral de que uma pessoa desenvolverá a doença de Alzheimer. A redução também está associada à depressão, TDAH, transtorno bipolar, esquizofrenia, lesão cerebral traumática, vício, suicídio e outras condições.

A relação da obesidade com a fisiologia cerebral pode ocorrer por vários mecanismos. Um é através da neuroinflamação e sua influência na perfusão. A neuroinflamação está relacionada à hipoperfusão cerebral por meio de vias que incluem TREM-2, um biomarcador de neuroinflamação também observado na doença de Alzheimer. Assim, a obesidade crônica com sua inflamação sistêmica associada pode desencadear uma neuroinflamação e, consequentemente, hipoperfusão. Mudanças nos níveis de hormônios sexuais causadas pela obesidade também podem resultar em mudanças na perfusão cerebral.

Embora os resultados deste estudo sejam profundamente preocupantes, devido ao grande aumento de sobrepeso populacional observado nas últimas décadas, há esperança no trabalho de conscientização alimentar ou estilo de vida exercido por profissionais de saúde, em particular, nutricionistas. Uma das lições mais importantes dos estudos de imagens cerebrais passados é que uma dieta inteligente aliada a exercícios regulares pode melhorar o fluxo sanguíneo cerebral e seu funcionamento.

Fonte:

Amen D, et al.Patterns of Regional Cerebral Blood Flow as a Function of Obesity in Adults.

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Seja bem-vindo(a) à primeira edição da Essentia Atual, o novo boletim para prescritores da Essentia Pharma. Por este canal, iremos trazer regularmente novidades científicas das áreas de medicina, nutrição e saúde. Nesta primeira edição, resumimos as conclusões de um estudo que mostrou que o controle dos níveis de ferro no organismo aparenta ser um importante fator de aumento da longevidade. No segundo estudo selecionado, os pesquisadores mostram que a atividade física intensa é capaz de causar quase 10.000 alterações moleculares no organismo, beneficiando as vias metabólicas, imune e cardiovascular.

Boa leitura!


Níveis de ferro no sangue podem indicar longevidade

Estudo internacional publicado em Nature Communications parece encaixar mais uma peça para a compreensão do complexo quebra-cabeça para o aumento da longevidade. Os pesquisadores, ao usar dados de correlações genéticas de características de envelhecimento de aproximadamente 1,75 milhão de pessoas, criaram uma análise sem precedentes, destacando dez regiões do genoma intrinsicamente associadas à idade biológica, anos de vida livres de doenças e vida extremamente longeva.

Entre os achados que sedimentam vias para futuras pesquisas, descobriram que conjuntos de genes ligados ao ferro estavam super-representados em suas análises das três medidas de envelhecimento. O ferro sanguíneo é afetado pela dieta e níveis anormalmente altos ou baixos estão relacionados a condições relacionadas à idade, como doença de Parkinson, doença hepática e um declínio na capacidade do organismo de combater infecções.

“Estamos muito empolgados com essas descobertas, pois sugerem fortemente que altos níveis de ferro no sangue reduzem nossos anos de vida saudáveis.Ou seja, manter esses níveis sob controle pode impedir danos relacionados à idade. Especulamos que nossas descobertas sobre o metabolismo do ferro também possam começar a explicar por que níveis muito altos de carne vermelha rica em ferro na dieta foram associados a condições relacionadas à idade, como as doenças cardíacas”, afirmou um dos autores do estudo, Dr. Paul Timmers, pesquisador da Universidade de Edimburgo.

Fonte:

Timmers P, at all. Multivariate genomic scan implicates novel loci and haem metabolism in human ageing.


Quase 10 mil alterações moleculares realçam a importância do exercício

O título do estudo publicado em Cell, Molecular Choreography of Acute Exercise (Coreografia Molecular de Exercícios Agudos, em tradução livre), chama a atenção. Mas apenas ao se debruçar nele é que se compreende a sua real significância da atividade física para 9.815 alterações moleculares nas vias metabólicas, imune e cardiovascular. Usando dados multiômicos de 36 participantes – selecionados para abranger uma ampla gama de resistência à insulina –, os autores puderam investigar detalhadamente a resposta diferencial ao exercício, obtendo sólidos insights sobre a fisiopatologia das condições metabólicas.

O campo de estudo ômico visa a caracterização e quantificação coletiva de conjuntos de moléculas biológicas. Em comparação com os estudos anteriores, este nos fornece um grande salto informacional ao agregar dados do perfil das células mononucleares do plasma e do sangue periférico, incluindo o metaboloma, o lipidoma, o imunoma, o proteoma e o transcriptoma.

No total, 17.662 moléculas foram analisadas, sendo que mais da metade (9.815) sofreu alterações após sessões vigorosas de aproximadamente 9-10 minutos de exercício. Amostras de sangue de participantes com resistência insulínica, por exemplo, mostraram aumentos menores em algumas das moléculas relacionadas ao controle da glicemia e aumentos maiores nas moléculas envolvidas na inflamação, sugerindo resistência a certos efeitos benéficos do exercício.

Diferenças significativas foram observadas em vários processos biológicos impactados pelo exercício, incluindo vias inflamatórias, estresse oxidativo, vascular, hipertrófico e de crescimento celular. Além de uma resposta inflamatória reduzida em participantes resistentes à insulina, foi observada uma melhor eficiência antioxidante sobre os ácidos graxos livres, produção de energia e restauração da homeostase energética.

Os pesquisadores também detectaram resposta diferencial no metabolismo do glutamato que está implicada na doença cardíaca coronariana. Além disso, a sinalização cardiovascular mostrou diferenças marcantes (geralmente na direção oposta) e incluiu endotelina-1 (vasoconstritor e alvo terapêutico na biologia vascular), trombina (uma enzima crítica na via de coagulação), e sinalização beta-adrenérgica cardíaca (reduzida na síndrome da insuficiência cardíaca ou nos distúrbios autonômicos).

Fonte:

Contrepois K, et al. Molecular Choreograp.